Cinco anos de guerra; cem mil mortos confirmados e um milhão estimados; quase metade da população sem emprego; um terço dos iraquianos não tem água potável e aproxima-se o Verão, onde as temperaturas chegam a ultrapassar os sessenta graus centígrados. Que futuro para este Iraque? Procuro respostas.
A família Shuaip recebe-me em casa, nos arredores de Bagdade. Entramos
sem que os vizinhos percebam quem somos. “Já não se pode confiar
Já conheço esta família sunita de outras vindas ao Iraque. Ele, antigo major dos serviços secretos de Saddam, é agora correspondente de um jornal japonês, o “Yomi uri Shimbon” Em tempos, confiou-me um segredo que já não o é e assisti ao momento em que foi convidado para voltar a ser espião, desta vez ao serviço da CIA e sob a patente de Coronel. Aconteceu em pleno elevador do Hotel Palestina. Perguntei-lhe porque tinha recusado, respondeu a sorrir - como sempre, de resto: “também já disse não várias vezes à resistência. Prefiro ser jornalista!” Bassim pagou caro essas recusas. Foi atacado pelas milícias e não conseguiu qualquer ajuda dos americanos. Teve que fugir para a Síria. Agora, de regresso a Bagdade, diz-me que a liberdade deixou de ser prioridade para ele. “A segurança vem primeiro, só depois a democracia. Como poderemos decidir o nosso futuro se temos medo? Como serei livre se não me sinto seguro? Como poderei educar os meus filhos se os raptam e matam à saída das escolas? Acho que todos estes sacrifícios não valeram a pena, pois antes tínhamos um ditador, agora temos dezenas.”
Ontem fui para a rua perceber os iraquianos, hoje fui ao Parlamento tentar entender os políticos. Al-Maliki, Primeiro-ministro reuniu os partidos e outras forças que ainda se recusam a participar no processo de reconciliação. Houve quem rejeitasse o convite, mas os que foram, deram um pequeno passo para a paz. À minha pergunta, para quando a pacificação entre Sunitas e Xiitas, Al-Maliki diz-me que “há esperança”, e acrescenta: “a paz está a acontecer e que a violência sectária está a passar”. Para este xiita moderado que chefia o governo iraquiano, o país caminhou perigosamente para a guerra civil durante o pico de violência registado o ano passado. Agora, Al-Malaki acredita que o caminho é conseguir um acordo com os que ainda se mantém fora da discussão política, até por que, diz, “já ninguém morre por ser xiita ou sunita”.