Quinta-feira, 20 de Março de 2008

5 anos de Guerra. Valeu a Pena?

 

 

 Cinco anos de guerra; cem mil mortos confirmados e um milhão estimados; quase metade da população sem emprego; um terço dos iraquianos não tem água potável e aproxima-se o Verão, onde as temperaturas chegam a ultrapassar os sessenta graus centígrados. Que futuro para este Iraque? Procuro respostas.

 

A família Shuaip recebe-me em casa, nos arredores de Bagdade. Entramos

sem que os vizinhos percebam quem somos. “Já não se pode confiar em ninguém. Muito menos nas pessoas que vivem na nossa rua!”, diz-me Bassim, ao mesmo tempo que espreita para as casas ao lado. Nahala, a mulher, aproxima-se e cumprimenta-me à distância. Dou dois passos e estendo-lhe a mão. Ela, surpreendida, olha para o marido que a autoriza a devolver o gesto acenando afirmativamente com a cabeça. Nahara está muito bem vestida e cuidadosamente maquilhada. Veste roupas típicas até aos pés, cobre a cabeça com um lenço que não lhe deixa ver o cabelo e mantém uma postura silenciosa. É o marido quem lhe determina os gestos.

 

Já conheço esta família sunita de outras vindas ao Iraque. Ele, antigo major dos serviços secretos de Saddam, é agora correspondente de um jornal japonês, o “Yomi uri Shimbon” Em tempos, confiou-me um segredo que já não o é e assisti ao momento em que foi convidado para voltar a ser espião, desta vez ao serviço da CIA e sob a patente de Coronel. Aconteceu em pleno elevador do Hotel Palestina. Perguntei-lhe porque tinha recusado, respondeu a sorrir - como sempre, de resto: “também já disse não várias vezes à resistência. Prefiro ser jornalista!” Bassim pagou caro essas recusas. Foi atacado pelas milícias e não conseguiu qualquer ajuda dos americanos. Teve que fugir para a Síria. Agora, de regresso a Bagdade, diz-me que a liberdade deixou de ser prioridade para ele. “A segurança vem primeiro, só depois a democracia. Como poderemos decidir o nosso futuro se temos medo? Como serei livre se não me sinto seguro? Como poderei educar os meus filhos se os raptam e matam à saída das escolas? Acho que todos estes sacrifícios não valeram a pena, pois antes tínhamos um ditador, agora temos dezenas.”

 

Ontem fui para a rua perceber os iraquianos, hoje fui ao Parlamento tentar entender os políticos. Al-Maliki, Primeiro-ministro reuniu os partidos e outras forças que ainda se recusam a participar no processo de reconciliação. Houve quem rejeitasse o convite, mas os que foram, deram um pequeno passo para a paz. À minha pergunta, para quando a pacificação entre Sunitas e Xiitas, Al-Maliki diz-me que “há esperança”, e acrescenta: “a paz está a acontecer e que a violência sectária está a passar”. Para este xiita moderado que chefia o governo iraquiano, o país caminhou perigosamente para a guerra civil durante o pico de violência registado o ano passado. Agora, Al-Malaki acredita que o caminho é conseguir um acordo com os que ainda se mantém fora da discussão política, até por que, diz, “já ninguém morre por ser xiita ou sunita”.

publicado por Luís Castro às 08:00
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De Afonso Reis Cabral a 20 de Março de 2008
Realidades impressionantes.
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Rádio Renascença
RDP/Antena 1

- Colaborações em Rádio:
Voz da América
Voz da Alemanha
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Rádio Caracol (Colômbia)
Diversas - Brasil e na Argentina

- Colaborações Imprensa:
Expresso
Agência Lusa
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Artigos de Opinião

RTP:
Editor de Política, Economia e Internacional na RTP-Porto (2001/2002)
Coordenador do "Bom-Dia Portugal" (2002/2004)
Coordenador do "Telejornal" (2004/2008)
Editor Executivo de Informação (2008/2010)

Enviado especial:
20 guerras/situações de conflito

Outras:
Formador em cursos relacionados com jornalismo de guerra e com forças especiais
Protagonista do documentário "Em nome de Allah", da televisão Iraniana
ONG "Missão Infinita" - Presidente

Obras publicadas:
"Repórter de Guerra" - autor
"Por que Adoptámos Maddie" - autor
"Curtas Letragens" - co-autor
"Os Dias de Bagdade" - colaboração
"Sonhos Que o Vento Levou" - colaboração
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