Então, Manuel Alegre?
Só ameaças?
Mataste os teus próprios poemas?
Plínio dizia que “o poeta tem autorização para mentir”.
Alegre, mentiste?
Pessoa admitia que “o poeta é um fingidor”.
Alegre, fingiste?
Quintana alertava: “desconfia da tristeza de certos poetas”:
Alegre, desiludiste!
E recordo-te o que tu próprio escreveste em a “Letra para um Hino”:
É possível falar sem um nó na garganta
é possível amar sem que venham proibir
é possível correr sem que seja fugir.
Se tens vontade de cantar não tenhas medo: canta.
É possível andar sem olhar para o chão
é possível viver sem que seja de rastos.
Os teus olhos nasceram para olhar os astros
se te apetece dizer não grita comigo: não.
É possível viver de outro modo. É
possível transformares em arma a tua mão.
É possível o amor. É possível o pão.
É possível viver de pé.
Não te deixes murchar. Não deixes que te domem.
É possível viver sem fingir que se vive.
É possível ser homem.
É possível ser livre livre livre.
Manel,
Os teus três “Nãos” não me chegam.
O teu MIC parece-me pouco.
Admites o nó na garganta?
Olhas para o chão
porque tiveste receio de correr.
Não quiseste cantar.
Não vais viver de outro modo.
Estás domado.
Vais murchar.
Luís Castro