Terça-feira, 29 de Abril de 2008

"Deixa-os pousar..."

 

Já registei entradas de mais de cinquenta países. Mas há uma que me intriga: tu, que todos os dias vens ao blogue e que estás em Fort Waine, no Indiana, és um homem ou uma máquina?

Enquanto fico à espera da resposta, aqui vos deixo mais um pedaço da minha aventura no Iraque, fugindo dos americanos…

Beijos e abraços para todos.

Luís Castro

 

.

    Anoitece e acabamos parados com dois tiros disparados por cima dos nossos jipes. São novamente os americanos. Recuamos à procura de um abrigo seguro, uma vez que os novos senhores do Iraque” não nos querem por perto. Avistamos alguns homens junto a um portão de uma fábrica que de pronto se oferecem para nos dar protecção. Não sei se podemos confiar neles ou não, mas também não temos alternativa. Ao verem os nossos jipes, param também alguns camionistas que transportam tomates e que procuram saber as nossas nacionalidades. Um deles avança para mim de dedo em riste:

   - Ameriquia?

   - No, no. Portugali!

   - Portugali? Ah, brother, brother, senta, senta, come, come!

  E assim fico, trocando cigarros e comida, conversando do Figo, dos nossos dois países, da cultura que partilhamos e, claro, da guerra.

   - Então, porque é que vocês não lutam com os americanos? Não tarda nada chegam a Bagdade.

   - Para quê? Lutar contra estas máquinas de guerra? Nem pensar. Morríamos logo. Quando eles estiverem instalados e relaxados, aí, sim, vamos dar-lhes caça!

   Entendo. À maneira portuguesa, é do tipo: deixa-os pousar!

Já de manhã, o Vítor grava a conversa que uma mulher mantém pelo telefone do jornalista saudita para os Estados Unidos. Entre soluços, diz à cunhada que o país que anos antes a acolhera depois de fugir do Iraque agora lhe roubara o marido e que ficara viúva com os seus dez filhos. O homem veio visitar a família e morreu com uma bomba

lançada por um avião americano. O momento é intenso.

.

.

  Voltamos ao deserto e testemunhamos mais um daqueles momentos que revoltam. Soldados dos EUA arrastam dois iraquianos pelo pó, colocando os joelhos nas costas deles e revistando-lhes as roupas. Já vi isto em qualquer lado. Ah, grandes soldados! Conseguiram neutralizar um velho de oitenta anos e o filho que transportava duas cabras. Assim é que é: mais uma demonstração de quem manda no mundo! Quando finalmente se levantam, pedem água, mas os americanos não os compreendem e é o jornalista árabe quem traduz. O mais velho está furioso. “Passámos muito mal no tempo do Saddam, mas nunca me fizeram isto. Sou o chefe da minha aldeia, sou muito respeitado entre a minha gente e, por favor, nunca mais me obriguem a deitar no chão. É muito humilhante!”

.

publicado por Luís Castro às 02:58
link do post
De pedro oliveira a 29 de Abril de 2008
Vou aproveitar a boleia do alex, para lhes dizer que se quiserem ver a minha "chipala" basta ir ao meu cantinho (vilaforte) e carregar no meu nome.Quanto à pergunta (do alex) se escreve para si ou para quem o lê, eu falo por mim, eu quando escrevo(a maior parte das vezes mal) escrevo para quem lê,mas como se os conhecesse, é estranho mas é assim(mas no meu cantinho conheço mesmo alguns deles) .

Quanto ao post,o desabafo do velhote resume tudo,acho eu.

um abraço
De Luís Castro a 29 de Abril de 2008
Pedro,
talvez não tenha respondido integralmente à Alex.
Vou completar: escrevo para partilhar com os outros.
Assim, julgo que escrevo para quem me lê e porque gosto de escrever.
O facto de responder a todos demonstra a importância que as vossas opiniões ou dúvidas têm para mim.
Na blogosfera, a tendência é colocar posts e depois não reagir aos comentários lá colocados.
Abraço
LC
De alex a 29 de Abril de 2008
tem toda a razão é essa a tendência da blogoesfera mas é essa diferença ( das suas respostas aos comentarios) que nos faz voltar......a mim pelo menos ...

obrigada pelas respostas...tá visto que tenho perdido algumas reportagens sobre esta crise alimentar...

há dias dificeis de gerir a tempo...

espero k que o anonimo k o tem intrigado se identifique.....

bjs
alex
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Perfil

Jornalista desde 1988
- 8 anos em Rádio:
Rádio Lajes (Açores)
Rádio Nova (Porto)
Rádio Renascença
RDP/Antena 1

- Colaborações em Rádio:
Voz da América
Voz da Alemanha
BBC Rádio
Rádio Caracol (Colômbia)
Diversas - Brasil e na Argentina

- Colaborações Imprensa:
Expresso
Agência Lusa
Revistas diversas
Artigos de Opinião

RTP:
Editor de Política, Economia e Internacional na RTP-Porto (2001/2002)
Coordenador do "Bom-Dia Portugal" (2002/2004)
Coordenador do "Telejornal" (2004/2008)
Editor Executivo de Informação (2008/2010)

Enviado especial:
20 guerras/situações de conflito

Outras:
Formador em cursos relacionados com jornalismo de guerra e com forças especiais
Protagonista do documentário "Em nome de Allah", da televisão Iraniana
ONG "Missão Infinita" - Presidente

Obras publicadas:
"Repórter de Guerra" - autor
"Por que Adoptámos Maddie" - autor
"Curtas Letragens" - co-autor
"Os Dias de Bagdade" - colaboração
"Sonhos Que o Vento Levou" - colaboração
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