Por questões de programação da RTP, a reportagem "Cemitério dos Impérios", que retrata a linha da frente da guerra contras os Talibãs, só irá para o "ar" no dia 17 de Março - de amanhã a oito dias -, logo a seguir ao Telejornal.
Com a Malalai, uma menina do vale de Arghandab, no Sul do Afeganistão.
Com militares afegãos na entrada Norte de Kabul.
Montanhas do Norte do Afeganistão.
Com o coronel Correia no Centro de Operações Tácticas da Divisão de Kabul do exército afegão.
Na loja do Mustafah, o vendedor de Burkas em Kabul.
O meu motorista com as burkas que comprei para oferecer a alguns amigos.
Comendo uma sopa típica afegã numa ponte do centro de Kabul.
Com dois amigos afegãos num dia de chuva e muito frio.
Luís Castro
À minha frente, 150 militares.
São eles os futuros oficiais superiores das Forças Armadas Portuguesas.
E porque deles será o futuro, mostrei-lhes o presente.
Foram os primeiros a ver a reportagem que irá para o “ar” na próxima quarta-feira, 10 de Março, que retrata a linha da frente da guerra no Afeganistão.
As reacções não podiam ter sido melhores.
No final, alguém veio dizer que nunca tinha visto uma reportagem assim.
Vieram-me à memória as palavras do ministro Luís Amado, há cerca de 15 dias:
“Só oiço falar mal de Portugal em Portugal!”
Quarta-feira vão perceber o que quero dizer.
Voltei ao Instituto de Estudos Superiores Militares para mais uma palestra/conferência.
Mais um momento que muito me honrou e onde aproveitei para encontrar amigos que fiz por esse mundo fora, como o Silvério da GNR que já não via desde 2000, em Timor.
Um abraço muito especial para o meu amigo, o tenente-coronel Rui Ramos Silva
e um beijinho para a Ilda, de quem sempre ouvi falar tão bem – até no Afeganistão!
Hoje rumo a Norte, até Cabeceiras de Basto, para moderar uma conferência/debate com Marinho Pinto, o Bastonário da Ordem dos Advogados.
Luís Castro
Para quem tem curiosidade em saber como é a vida dos jornalistas na linha da frente da guerra do Afeganistão.
Quando vires alguém que corre para o local
de onde todos os outros tentam fugir, é jornalista.
Luís Castro
Desafiei o repórter de imagem que me acompanhou a escrever sobre a experiência que foi o Afeganistão.
Aqui fica o texto.
Será ele a responder aos vossos comentários.
Voltei a ter a oportunidade de regressar a um cenário de Guerra, desta vez o Afeganistão, uma realidade bem diferente daquela que encontrei no Iraque em 2008.
É a "reportagem" nos terrenos onde gosto trabalhar, apesar do perigo e de todos os condicionalismos existentes.
Quando cheguei ao sul do Afeganistão, em Kandahar, foi como se tivesse viajado no tempo num regresso à Pré-História. A Pobreza e as miseráveis condições com que os afegãos ali vivem, são impensáveis de existir neste séc XXI.
Casas construidas de terra. Luz, saneamento e água potável são....uma visão de um futuro distante. Um povo fechado, que muitas vezes parecia olhar para nós como se fossemos seres de um outro planeta.
Obama diz que esta é uma guerra justa.
As guerras não deviam existir, mas espero que esta possa dar aos afegãos a liberdade e a oportunidade de adquirir melhores condições de vida, abrindo-lhes igualmente as portas do conhecimento e do acesso à educação que anteriormente sempre lhes foi vedado pelo regime Talibã.
Que a vida de todos aqueles jovens soldados que tombaram neste conflito não tenha sido em vão. Pelo menos tenha a compensação de poder dar um futuro melhor a todas as crianças que por lá encontrámos. Foram delas os poucos sorrisos que conseguimos ver.
Esta foi a segunda vez em que estive "embedded" com o exército americano e mais uma vez ficou a admiração por todos aqueles jovens soldados e pelo trabalho que estão a desenvolver. Para eles uma abraço de agradecimento pela forma com que nos receberam naqueles dias.
Espero que possam voltar rapidamente para junto das familias e amigos.
Em Kabul, tive a oportunidade de confirmar o que já vem sendo hábito: o prestigio e a prestação do Exército Português. Foi com orgulho que ouvi dos Generais Afegãos.... que os Portugueses são os melhores....
O trabalho desenvolvido pelas forças Portuguesas em Kabul está a ser bastante apreciado por todos e é graças a esse trabalho que as condições de vida dos militares e de muitos habitantes da cidade melhoraram substancialmente.
Podemos não ser muitos, mas somos bons no que fazemos.
Para eles um abraço e que continuem a mostrar o valor dos Portugueses nestas missões.
Um abraço muito especial para o Major Luis Correia que está a chefiar o Hospital existente na Base Militar em Kabul.
Foi bom rever um colega de liceu, passados 25 anos.
Que tudo corra bem por aí e espero ver-te em breve por Coimbra.
Não posso terminar sem deixar um obrigado muito especial a todos aqueles que neste blogue foram deixando as suas mensagens durante a nossa estadia no Afeganistão.
Acreditem que sabia bem, ao abrir o computador, ler tudo aquilo que iam escrevendo.
A ti Castro, um abraço.
Foi bom poder voltar a trabalhar contigo.
Paulo Oliveira
Repórter Imagem
O Afeganistão é um cemitério de previsões falhadas.
A estratégia até agora foi um fracasso.
Com o general McCrystal
o objectivo passou a ser conquistar a paz e não ganhar a guerra.
E porquê?
Porque apesar de ser um dos países mais pobres e inóspitos do mundo,
é aqui que está o ponto geopolítico entre o Oriente e o Ocidente.
O que acontece no Afeganistão tem sempre influência directa ou indirecta no Ocidente.
Os Talibãs olham a modernidade como algo que é contra a religião, impondo uma visão medieval do Islão.
Eles dominam o palco e nunca irão para a mesa das negociações enquanto sentirem que estão a ganhar.
"Embedded" com as forças especiais americanas na linha da frente.
Numa aldeia referenciada como abrigo dos Talibãs.
Com crianças na mesma aldeia.
Pequena pausa na patrulha de combate.
Timur Shá, um afegão que gostou de ver os americanos. Diz ele...
Um soldado afegão que diz estar pronto para combater os Talibãs. Diz ele...
Num check-point da polícia militar a 20 Km de Kandahar.
No final da patrulha, o sargento Holmes propôs-me uma troca...
Luís Castro
Quando chegámos à "Task Force de Kandahar", fomos surpreendidos com o que acontecera no dia anterior:
um dos vários rockets lançado das montanhas pelos Talibãs caíra junto à tenda dos jornalistas. Por sorte não explodiu, caso contrário teriam morrido todos.
As marcas ficaram no contentor que está a menos de 10 metros da tenda.
Com o Claude, um simpático sargento canadiano que acompanha as forças armadas dos país há mais de 30 anos. Foi ele quem nos recebeu e ajudou antes de partirmos para a Linha da Frente do combate aos Talibãns.
Obrigado Claude!
A garrafa de vinho do Porto está à tua espera.
A tenda/redacção dos jornalista, em Kandahar.
É daqui que somos levados para as várias frentes.
Correspondente americano do New York Times.
O correspondente canadiano.
O correspondente italiano.
Mulheres... até na guerra!
(Estou a brincar!)
A minha secretária em Kandahar...
De partida para a equipa de combate da 4ª Divisão
(Paulo Oliveira - repórter de imagem)
Amanhã há mais.
Boa semana para todos.
Luís Castro
É o título da reportagem especial que irá para o ar no “Linha da Frente”.
Já está editada e terá mais de 30 minutos.
Brevemente anunciarei o dia em que irá ser exibida.
Quero partilhar convosco o email que recebi do tenente Casella. Um militar americano com quem passei a maior parte do tempo no vale de Arghandab, no Sul do Afeganistão.
We really appreciate the risks that members of the press to take to get the story of what is really happening on the ground out.
You are brave men and I applaud you for your service to humankind.
We are looking forward to viewing your reports. Please send us a link
when you get one.
You are always welcome here and we hope that you'll be able to visit
again before we redeploy out of the country.
Airborne!
Sincerely,
Sam H. Casella
1LT, IN USA
Delta Company/2nd Battalion/508th Parachute Infantry Regiment/4th
Brigade Combat Team/82nd Airborne Division
COP SARKARI BAGH
Kandahar, Afghanistan
Nos próximos posts irei publicar mais fotografias do que foi a nossa passagem pelo Afeganistão.
Luís Castro
“Tenho americanos, turcos e portugueses, mas se há alguém que tem feito algo pelo Afeganistão… são os portugueses. E também ajudam as famílias afegãs mais pobres.”
A declaração é do general Azimullah, o responsável pelos assuntos religiosos e culturais, e faz parte de uma entrevista que passará na reportagem especial que já estou a preparar.
Estamos no “TOC”, o Centro de Operações Táctico de Kabul. Nunca aqui entrou um jornalista, muito menos os generais se haviam deixado filmar durante estes momentos. É daqui que a Divisão responde aos ataques dos Talibãns.
Este centro foi montado por Portugal e poucas pessoas sabem que temos “mentores” portugueses a trabalhar com os generais afegãos.
A “nossa gente” tem feito um trabalho impressionante. Terão oportunidade de ver e ouvir os generais afegãos a falar dos portugueses e do muito que já aprenderam com eles.
E mais não digo. O resto fica para a reportagem do “Linha de Frente”.
Nota:
Já regressei a Portugal.
Correu bem a minha 20ª ida a cenários de guerra ou de conflito durante os últimos 13 anos.
Obrigado por toda a força que me deram!!!
Trago mais posts e fotografias do que foram estas semanas no Afeganistão
e que irei publicar nos próximos dias.
Luís Castro
- Não sou!
- És, és!
Não adianta. Pronto, sou um pasthune!
No Afeganistão,
no aeroporto de Kabul acharam que eu era afegão e falaram comigo em dari; depois, já na cidade, começaram a falar comigo em turco; agora, é um líder tribal de Kandahar que está convencido que sou da etnia dele e quer falar em pasthune.
Mas não é só aqui. No Iraque dizem que sou iraquiano ou libanês; que nada me pareço com os europeus, o que é bom. Assim, passo despercebido até o momento que mostro a câmara e o microfone. Também na Jordânia e no Kuwait passo por um local. Corre-me sangue árabe nas veias, muito provavelmente.
Durante toda a conversa com os americanos, no deserto do sul do Afeganistão, o líder pasthune não tirou os olhos de nós. Percebeu que não éramos soldados e muito menos americanos. No final da reunião, o afegão fez questão de saber de onde somos. “Ah, Por-tu-cale!”, soletra com um sorriso nos lábios.
Cumprimento-o com as duas mãos e de seguida bato com a direita no peito. É um sinal de respeito. Pergunto ao tradutor se acredita que este líder pasthune não ajuda os talibãns:
- Claro que ajuda. Ele e os outros.
- Como sabes?
- Ainda há dois dias atacaram os polícias militares afegãos.
- Mas isso não prova nada.
- Prova! Os tiros vieram da aldeia dele.
Comprovo isso nos dias seguintes. Por aqui são todos pasthunes e, como tal, fortes apoiantes da causa Talibã.
Luís Castro
São 7h30 da manhã. O silêncio no vale de Arghandab é interrompido pela viola de um americano. Pergunto-lhe se está a descontrair antes da patrulha de combate.
“É! É uma forma de relaxar e de manter a cabeça limpa”, responde-me o sargento Gloyer.
Gloyer tem 26 anos, é da Pensilvânia, não tem filhos, “só dois cães”, diz-me com um largo sorriso, tão largo como este vale, onde os soviéticos nunca conseguiram vencer os mujhaedines. Também por isso os americanos levam tudo ao mais pequeno pormenor. Nós também.
É o mesmo Gloyer quem vai comandar a patrulha de combate.
Ele pede aos soldados e a nós que estejamos muito atentos a tudo e a todos.
Já me tinham avisado que ia ser “durinha” fisicamente.
Saltamos muros, atravessamos campos lavrados, paramos, escutamos, mas não há sinal dos insurgentes, apenas de um agricultor que recolhe lenha e quase nos ignora. Os soldados americanos e afegãos observam-no à distância e seguem-lhes todos os movimentos. Este é inofensivo, pelo menos agora.
“Foda-se! Vê onde pões a merda dos pés!” A tradução é soft. Saíram mais palavrões da boca do sargento Gloyer quando um dos paraquedistas quase pisava uma granada de artilharia. Está abandonada e em muito mau estado. Via rádio, é chamada uma equipa especialista em explosivos.
Os soldados procuram mais objectos considerados suspeitos e assinalam-nos. É alargado o perímetro de segurança e Gloyer pede a um dos soldados que mande parar quem se aparecer naquele caminho. “Não quero ficar em picadinho!”, remata o sargento. Registo o momento com a micro câmara.
O primeiro afegão que aparece, ao ver um soldado americano aproximar-se, imediatamente levanta os braços para ser revistado. Chegam mais e a situação torna-se descontraída, tão descontraída que Tuaer, um dos soldados afegãos tenta demonstrar que é mais forte do que nós. Faz braço-de-ferro com o sargento e desafia-me a levantar a perna até à mão dele.
Tuaer pede-me água e cigarros, dá-me nozes e uma promessa:
“Vou-te proteger enquanto estiveres no Afeganistão!”
Não sei se isso é bom ou se é mau.
Luís Castro