Foi há 12 anos.
Inês,
contaste-me há quinze dias o quanto te incomodam as tragédias, mas que gostarias de ir lá, ver como é. Sei tão bem o que sentes. Eu também sou assim, preciso de ir lá; ver… cheirar e tocar… para poder contar. Preciso de me misturar com eles para os poder perceber. É o que estou a fazer no Afeganistão.
Hoje, vou passar mais uma dia no vale de de Argandhab, no Sul do Afeganistão.
Por aqui pouco mais há do que pessoas e pedras. Mas há pessoas.
E muitas crianças como tu que não têm escola porque os talibãns não deixam,
Meninas com um casamento imposto e uma burka para o resto da vida.
Mulheres que não são tratadas porque os talibãns não o permitem que os homens as vejam.
Este mundo é muito diferente do nosso.
É preciso estar aqui para perceber as palavras de Barack Obama quando disse que esta é uma “guerra justa”. É!
Como te disse, por aqui também há pessoas. E são essas pessoas que merecem todo o nosso sacrifício. O meu e o de milhares de soldados de mais de 40 países que aqui vieram lutar. Todos sabemos que há sempre interesses escondidos, mas também é verdade que dificilmente haverá no mundo um país civilizacionalmente tão atrasado como o Afeganistão.
Ontem atravessámos aldeias. Os mais velhos afastavam-se quando viam os americanos, as mulheres corriam a fechar-se em casa e só as crianças, na sua inocência, se aproximavam pedindo “kalam, kalam!”, esferográficas.
Inês,
neste dia tão especial,
mais uma vez não estarei presente.
Mais uma vez te peço desculpa!
Em Dari, língua oficial afegã:
Saalgira tan mobarak bashad, Inês!
Ou em Pasthune:
Da seghedelai call le manzena, Inês!
Parabéns Inês!
Tirei esta fotografia com a Malalai, uma menina afegã do vale de Arghandab, para te mandar.
Espero que gostes.
Um beijinho muito grande.
Luís Castro