A pergunta não podia ser mais directa. O capitão quer saber que histórias procuro. O tenente já me tinha sondado: “O que pensas desta guerra?”
No QG da 82ª Airborn Division, os americanos já me tinham feito um briefing explicando que operações decorrem em Kandahar e no resto da província. Agora, já no vale de Arghandab, dizem-me que do outro lado do rio está uma tribo que pertence a Mullah Omar onde se abrigam muitos talibãns e de onde vêm muitos problemas. Dão-nos metade de uma tenda… com ar condicionado. Na noite anterior, numa outra posição, praticamente não dormi com o frio que faz durante a noite. Meti-me dentro do saco cama com o blusão e botas calçadas, mas nem assim.
Seguimos na primeira patrulha de combate desde que aqui chegámos. Lidera um tenente muito jovem, terá vinte e poucos anos. Buittel, de ascendência alemã, pede aos soldados que estejam muito atentos porque vamos entrar numa aldeia com passagens muito apertadas.
Num primeiro checkpoint, os soldados afegãos confirmam que os talibãns aterrorizam as populações e que os tentam convencer a lutar contra os estrangeiros. Seguimos pela estrada com dois helicópteros a acompanhar a patrulha e tudo o que se passa à nossa volta.
Enquanto o tenente Buitel reúne com o chefe da aldeia, os soldados ficam cá fora. As crianças pedem tudo aos americanos: esferográficas, óculos, capacete, colete, botas, joelheiras e até as M-16. O médico paraquedista trata uma ferida na cabeça de uma criança. Ela agradece com um gesto batendo na mão do americano.
O chefe quer um gerador para a aldeia, Os americanos registaram o pedido.
Voltamos à unidade e… surpresa: há água quente!
Já não tomávamos banho há três dias.
Luís Castro
Paulo Oliveira