São 7h30 da manhã. O silêncio no vale de Arghandab é interrompido pela viola de um americano. Pergunto-lhe se está a descontrair antes da patrulha de combate.
“É! É uma forma de relaxar e de manter a cabeça limpa”, responde-me o sargento Gloyer.
Gloyer tem 26 anos, é da Pensilvânia, não tem filhos, “só dois cães”, diz-me com um largo sorriso, tão largo como este vale, onde os soviéticos nunca conseguiram vencer os mujhaedines. Também por isso os americanos levam tudo ao mais pequeno pormenor. Nós também.
É o mesmo Gloyer quem vai comandar a patrulha de combate.
Ele pede aos soldados e a nós que estejamos muito atentos a tudo e a todos.
Já me tinham avisado que ia ser “durinha” fisicamente.
Saltamos muros, atravessamos campos lavrados, paramos, escutamos, mas não há sinal dos insurgentes, apenas de um agricultor que recolhe lenha e quase nos ignora. Os soldados americanos e afegãos observam-no à distância e seguem-lhes todos os movimentos. Este é inofensivo, pelo menos agora.
“Foda-se! Vê onde pões a merda dos pés!” A tradução é soft. Saíram mais palavrões da boca do sargento Gloyer quando um dos paraquedistas quase pisava uma granada de artilharia. Está abandonada e em muito mau estado. Via rádio, é chamada uma equipa especialista em explosivos.
Os soldados procuram mais objectos considerados suspeitos e assinalam-nos. É alargado o perímetro de segurança e Gloyer pede a um dos soldados que mande parar quem se aparecer naquele caminho. “Não quero ficar em picadinho!”, remata o sargento. Registo o momento com a micro câmara.
O primeiro afegão que aparece, ao ver um soldado americano aproximar-se, imediatamente levanta os braços para ser revistado. Chegam mais e a situação torna-se descontraída, tão descontraída que Tuaer, um dos soldados afegãos tenta demonstrar que é mais forte do que nós. Faz braço-de-ferro com o sargento e desafia-me a levantar a perna até à mão dele.
Tuaer pede-me água e cigarros, dá-me nozes e uma promessa:
“Vou-te proteger enquanto estiveres no Afeganistão!”
Não sei se isso é bom ou se é mau.
Luís Castro