Quarta-feira, 24 de Março de 2010

E se fizéssemos o mesmo?

Todos os dias nós decidimos o que deve ou não deve ser notícia.

Mas como tornar esse processo mais transparente?

 

Há não muito tempo, discuti o assunto com um dos decanos da nossa profissão. Coloquei-lhe a hipótese de mostrar aos nossos "públicos" os critérios que nos levam a escolher determinados assuntos em detrimento de outros. Respondeu-me que nem os jornalistas nem os "públicos " estariam preparados para esse passo.

 

Hoje soube que o New York Times começou a disponibilizar no seu site uma gravação com as reuniões de alinhamento do jornal.

 

 

 

 

Miguel Sousa Tavares escreveu recentemente no Expresso que "A maior e mais real ameaça à liberdade de imprensa é o tipo de jornalismo que hoje se faz e que é ditado, primeiro do que tudo, pela necessidade de vender informação e conquistar audiências a qualquer preço". Não posso estar mais de acordo.

 

Guardo as palavras de Rupert Murdock, o magnata dos media, que um dia se questionou:

"Como devemos tratar quem está do outro lado do ecrã, como cidadãos ou como telespectadores? Como cidadãos, dando-lhes as ferramentas necessárias para interpretarem o país e o mundo; ou como telespectadores, fornecendo-lhes conteúdos capazes de gerar audiências?

Responde eu:

venceu o segundo.

Os espaços de informação têm cada vez mais histórias e cada vez menos notícias.

 

Luís Castro

publicado por Luís Castro às 15:52
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47 comentários:
De Virgínia a 25 de Março de 2010
Bom dia Luís
Parabéns pela reportagem do Linha da Frente.
O Luís e o Paulo estiveram optimos naquela terra tão diferente nos usos e costumes e tão barrenta que parece impossível alguém conseguir viver no meio de tanto pó e lama.
Quando o Luís disse que tinham de seguir pelos campos lavrados para evitar possíveis bombas mais parecia que seguiam por uma pedreira; que sítio tão despido comparado com o nosso jardim à beira-mar plantado... e principalmente com o nosso verde do Norte...
Os militares, rapazes tão jovens, em missões tão perigosas, Deus os proteja e ajude as suas mães e familiares.
O povo afegão pareceu-me hospitaleiro, parecido connosco; aquela partilha de água e nozes não me pareceu muito higiénica mas, pela amizade faz-se tudo e, em tempo de guerra não se limpam armas.
A zona onde estiveram parecia em ruínas, mas as pessoas eram afáveis e como eram lindos aqueles bandos de crianças.
Mais uma vez, parabéns pela excelente reportagem que voltei a ver no apontamento das notícias da RTP2.

No post de hoje o Luís diz que há cada vez mais histórias e poucas notícias, tem razão; eu acho que tem muitas histórias, muitas estórias, muitos futebóis (demasiado) e poucas notícias.
Sei que deve ser difícil fazer o alinhamento de um jornal; a primeira notícia tem de ser bombástica para prender o telespectador, o mal é depois essa notícia ser constantemante e exaustivamente apresentada em apontamento e, só no final do notíciário é que é transmitida na íntegra.
Isso irrita-me profundamente e lá começa a funcionar o zapping... então quando é de futebol...
Mostrar a gravação de uma reunião do alinhamento de um jornal era uma excelente experiência. Nós, os telespectadores, talvez nos sentíssemos menos telespectadores e mais cidadãos e pode ter a certeza e a garantia que uma experiência dessas gerava audiências.

A RTP não deve ser privatizada. Deus nos livre de à noite, depois das notícias, termos mais um canal só com telenovelas e mais telenovelas! Credo!
Beijo


De Luís Castro a 26 de Março de 2010
Obrigado.
Respondo no próximo post.
LC
De bluewater68 a 25 de Março de 2010
Bom dia Luis Castro,
«excelência» é a palavra que melhor define a vossa reportagem. Parabéns a ambos. Estava curioso para a ver e valeu a pena. Ficam alguns apontamentos.
- Dois momentos de grande sensibilidade e emoção. O início da reportagem, que fala do teu amigo que morreu, e o capitão que lê a carta da mulher, a qual ele espera ver brevemente. Um capitão capaz de comandar muitos soldados naquela guerra, que mostrava toda a sua fragilidade com as saudades da mulher, um momento em tu até lhe pões a mão nas costas, dando-lhe força;
- O momento em que se cruzam com o homem a apanhar lenha «apenas de um agricultor que recolhe lenha e quase nos ignora. Os soldados americanos e afegãos observam-no à distância e seguem-lhes todos os movimentos. Este é inofensivo, pelo menos agora». Um aspecto que assusta naquela guerra, pois o inimigo, os insurgentes, misturam-se com a população. E tanto pode ser um pacífico agricultor, alheio ao exército que o vigia com desconfiança, como pode ser um insurgente que horas antes armou um IED na berma da estrada;
- Tive de voltar a ler o que já tinahs escrito neste blogue «um dos soldados afegãos tenta demonstrar que é mais forte do que nós. Faz braço-de-ferro com o sargento e desafia-me a levantar a perna até à mão dele». Fiquei com a ideia que seria um guia, alguém que nem deveria usar uma arma. E quando vejo que ele é um 'soldado afegão', fico apreensivo a pensar que o futuro do Afegão possa ser protegido por muitos outros soldados como ele, que, não inspiram confiança ou segurança (foi essa a sensação que ele me transmitiu). E o sargento Gloyer soltou um conjunto de palavrões porque iam pisando uma grada de artilharia, e depois, esse 'soldado' pega nela armado em herói perigoso. Já não havia o perigo dela explodir? Não foi um gesto estúpido e imprudente?
- Faltou a cereja em cima do bolo. Faltou a entrevista a um ex-insurgente. Faltou ouvir dizer aquilo que motivou um Afegão a pegar numa arma e a combater os todos poderosos exércitos do ocidente. Faltou saber qual moral dos que ficaram a combater. Sabemos que existe quem já largou a arma, mas ainda não li, em nenhum lado, uma linha sobre tomou essa decisão.
Abraço
De Luís Castro a 26 de Março de 2010
Muito obrigado!
Responderei a si e a todos no próximo post.
LC

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Perfil

Jornalista desde 1988
- 8 anos em Rádio:
Rádio Lajes (Açores)
Rádio Nova (Porto)
Rádio Renascença
RDP/Antena 1

- Colaborações em Rádio:
Voz da América
Voz da Alemanha
BBC Rádio
Rádio Caracol (Colômbia)
Diversas - Brasil e na Argentina

- Colaborações Imprensa:
Expresso
Agência Lusa
Revistas diversas
Artigos de Opinião

RTP:
Editor de Política, Economia e Internacional na RTP-Porto (2001/2002)
Coordenador do "Bom-Dia Portugal" (2002/2004)
Coordenador do "Telejornal" (2004/2008)
Editor Executivo de Informação (2008/2010)

Enviado especial:
20 guerras/situações de conflito

Outras:
Formador em cursos relacionados com jornalismo de guerra e com forças especiais
Protagonista do documentário "Em nome de Allah", da televisão Iraniana
ONG "Missão Infinita" - Presidente

Obras publicadas:
"Repórter de Guerra" - autor
"Por que Adoptámos Maddie" - autor
"Curtas Letragens" - co-autor
"Os Dias de Bagdade" - colaboração
"Sonhos Que o Vento Levou" - colaboração
"10 Anos de Microcrédito" - colaboração

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