Sexta-feira, 6 de Junho de 2008

E se voltar a acontecer?

 

Durante o Euro2004, o telejornalismo foi patriótico e transformou-se numa máquina de produção ideológica. Pergunto: foi bom ou mau?

Cintra Torres, crítico de televisão, escreveu em A TV do Futebol - livro da minha amiga Felisbela Lopes -, que o jornalismo distanciado se apagou para dar lugar à propaganda. E passo a transcrever:

“Ao lado do logótipo da estação e da indicação ‘RTP1 Directo’, foi colocada uma bandeira nacional. Ao começar o Telejornal, o habitual travelling sobre o estúdio mostrava ecrãs de computadores desertos iluminados pela bandeira nacional em background, e mostrava também cachecóis e outros distintivos patrióticos não só nas mesas de trabalho como na própria mesa do apresentador do noticiário.” Volto a perguntar: e se acontecer novamente durante o Euro2008, será errado?

Mas tenho ainda mais três perguntas para vos fazer:

Aqueles jogadores dão-nos uma identidade nacional?

O que nos une mais do que o futebol?

Se a notícia tiver emoção, o jornalista deve esquecê-la?

Na verdade, o estádio é oval, a bola é redonda, mas a estupidez é quadrada.

E como não quero ser um coordenador quadrado, respondam-me, por favor.

 

Luís Castro

Coordenador do Telejornal da RTP

 

publicado por Luís Castro às 02:48
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67 comentários:
De Daniel Marques a 6 de Junho de 2008
Amigo Castro,

Eu acho muito bem que se exiba a bandeira nacional com orgulho, mas não apenas durante o Euro.

Durante o Euro 2004, por um tempo julguei que era para ficar, mas mal este terminou, o metropolitano que antes tinha bandeiras em todas as suas portas de imediato as retirou. E quando falo do metropolitano falo da carris e de você que neste momento me está a ler e que antes tinha uma bandeira à entrada de casa.

Não achei vergonhoso expor-se a bandeira durante o Euro por influência de um brasileiro, fiquei foi escandalizado como de um momento para o outro se recolheu as bandeiras, ou então ficaram rasgadas e esquecidas. Se apenas somos portugueses às vezes, não vale a pena. E por favor, bandeiras nacionais com pagodes chineses num país normal seriam proibidas.

Patriotismo sim, mas não só com o futebol, porque por este andar vamos é ter de pendurar bandeiras do BES.

«O que nos une mais do que o futebol?» - A vergonha é esta, nada!
De Luís Castro a 6 de Junho de 2008
Daniel,
esses é que é o problema.
Os portugueses não têm nada que os una mais do que o futebol.
E só o futebol faz erguer a bandeira que, como dizes, devia estar sempre bem lá no alto.
Abraço
LC
De Sócrates a 6 de Junho de 2008
Julgo que cada vez mais, essa falta de união em volta de um símbolo nacional, que se aponta como um defeito, poderá ser visto como uma vantagem. Sou português, tenho orgulho em ser português mas não me choca no futuro quando me perguntarem a nacionalidade dizer que sou da União Europeia.

Há diferentes graus de sentimentos pertença que todos normalmente temos: agregado familiar, família, prédio/rua, bairro, cidade, região, país, uma união/aliança de países, continente, planeta, etc. Julgo que se aproxima a hora de subirmos mais um degrau, movendo o nosso foco do país para a "união/aliança de países" (União Europeia).

Também vibro com as vitórias da nossa selecção de futebol, ou não fosse um produto da sociedade Portuguesa, e também vibro também com os triunfos de outras selecções de outras modalidades. No entanto não deixo de considerar algum chauvinismo quando me coloco nessa posição. Afinal de que nos vale exultar uma selecção senão uma descarga química que nos provoca prazer? E porque acontece com actividades algo fúteis?

É com esta racionalização que procuro por em causa a necessidade de nos unirmos em volta de um símbolo nacional, em detrimento de um sentimento mais mundial (se assim o quisermos ver). Acho que deveríamos pensar que somos cidadãos do mundo antes de sermos cidadãos de uma nação, algo que não passa de um conceito criado pelo Homem e que tantos problemas e conflitos trouxe.
De Luís Castro a 6 de Junho de 2008
Sócrates, outro que não o primeiro, calculo...
Os portugueses precisam de mais símbolos de união.
Precisamos de ter orgulho nos nossos valores, na nossa pátria, na nossa bandeira, no nosso hino, na nossa História, enfim, em nós.
Pena é que estes sentimentos só se desenvolvam nestes momentos.
Abraço
LC

De Luís Castro a 7 de Junho de 2008
Daniel,
e hoje lá voltou o orgulho de um povo que anda triste.
Ab.
LC

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Perfil

Jornalista desde 1988
- 8 anos em Rádio:
Rádio Lajes (Açores)
Rádio Nova (Porto)
Rádio Renascença
RDP/Antena 1

- Colaborações em Rádio:
Voz da América
Voz da Alemanha
BBC Rádio
Rádio Caracol (Colômbia)
Diversas - Brasil e na Argentina

- Colaborações Imprensa:
Expresso
Agência Lusa
Revistas diversas
Artigos de Opinião

RTP:
Editor de Política, Economia e Internacional na RTP-Porto (2001/2002)
Coordenador do "Bom-Dia Portugal" (2002/2004)
Coordenador do "Telejornal" (2004/2008)
Editor Executivo de Informação (2008/2010)

Enviado especial:
20 guerras/situações de conflito

Outras:
Formador em cursos relacionados com jornalismo de guerra e com forças especiais
Protagonista do documentário "Em nome de Allah", da televisão Iraniana
ONG "Missão Infinita" - Presidente

Obras publicadas:
"Repórter de Guerra" - autor
"Por que Adoptámos Maddie" - autor
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