



Durante o Euro2004, o telejornalismo foi patriótico e transformou-se numa máquina de produção ideológica. Pergunto: foi bom ou mau?
Cintra Torres, crítico de televisão, escreveu em A TV do Futebol - livro da minha amiga Felisbela Lopes -, que o jornalismo distanciado se apagou para dar lugar à propaganda. E passo a transcrever:
“Ao lado do logótipo da estação e da indicação ‘RTP1 Directo’, foi colocada uma bandeira nacional. Ao começar o Telejornal, o habitual travelling sobre o estúdio mostrava ecrãs de computadores desertos iluminados pela bandeira nacional em background, e mostrava também cachecóis e outros distintivos patrióticos não só nas mesas de trabalho como na própria mesa do apresentador do noticiário.” Volto a perguntar: e se acontecer novamente durante o Euro2008, será errado?
Mas tenho ainda mais três perguntas para vos fazer:
Aqueles jogadores dão-nos uma identidade nacional?
O que nos une mais do que o futebol?
Se a notícia tiver emoção, o jornalista deve esquecê-la?
Na verdade, o estádio é oval, a bola é redonda, mas a estupidez é quadrada.
E como não quero ser um coordenador quadrado, respondam-me, por favor.
Luís Castro
Coordenador do Telejornal da RTP
De Felisbela Lopes a 6 de Junho de 2008
Percebe-se que o jornalismo desportivo seja o mais adjectivo de todos. Percebe-se igualmente que seja o mais salpicado pelo registo emotivo (as emoções serão sempre estruturantes do campo jornalístico). Percebe-se também que, em período de campeonatos europeus ou mundiais, os alinhamentos dos noticiários se façam em blocos temáticos com peças que nem sempre são notícia. Percebe-se tudo isto muito bem. Mas, no meu caso, já não percebo o que leva,por exemplo, a destacar as canções de Roberto Leal numa conferência de imprensa da Selecção. Não percebo também o que impede os jornalistas de interrogar Scolari, quando ele em defesa (da antipatia) de alguns dos seus jogadores disse que estavam em Viseu para trabalhar, quando aquilo que estava em causa era a forma como se comportavam nas saídas para iniciativas de índole social… Também não acho que os percursos que a Selecção faz de autocarro mereçam directos intermináveis, quando o autocarro que transporta os jogadores exibe (descaradamente) vidros escuros para evitar os olhares daqueles que genuinamente vão para as ruas apoiar “Portugal”.
Por estes dias, a Selecção vai ocupar jornais, rádios e televisões. Serei daquelas pessoas que seguirá com todo o interesse o trabalho jornalístico. Gostaria de sublinhar que temos excelentes jornalistas a acompanhar este Campeonato. Lá e cá. Mas, às vezes, pergunto-me se este clima (legítimo) de euforia não leva a certos excessos e a alguns abusos por parte dos donos da bola. Ser crítico não é ser anti-patriótico. Às vezes, pode até ser o contrário.
Felisbela Lopes
Felisbela,
vês porque eu gosto de ti?
Está lá tudo!
Bjs
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