Sexta-feira, 21 de Março de 2008

Quero mostrar mais

 

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Sinto-me frustrado. Em televisão, sem imagem é muito difícil contar histórias. E é cada vez mais complicado trabalhar lá fora. Não é novidade para mim, mas o estranho é que apesar de Bagdade estar um pouco mais segura, os iraquianos fogem de nós quando os abordamos nas ruas. Temem que a resistência os ataque por falarem com jornalistas estrangeiros ou que sejamos um chamariz para mais um carro bomba. Como se não bastasse, há momentos perdemos uma cassete, foi-nos confiscada depois de um incidente com disparos junto ao Hotel Palestina. Nada de muito importante, mas é demonstrativo do clima que se vive nas ruas da capital.

 

Esta manhã, eu e o repórter de imagem Paulo José Oliveira percorremos Karada street, um dos locais mais visados pelos atentados, e só a muito custo conseguimos que alguém falasse connosco. Nos últimos dias, três carros bomba explodiram nesta estrada fazendo dezenas de mortos. É uma das duas reportagens que esta noite vamos começar a editar para emitir nos telejornais dos próximos dias. A outra será com polícias e soldados iraquianos que ontem deixaram que os acompanhássemos por alguns minutos. A certa altura, um dos oficiais iraquianos desabafou: “os americanos têm músculos mas os iraquianos possuem cabeça". Quando lhe pedi que o repetisse para a câmara, recusou de imediato. “Trabalho com eles todos os dias”, arregalando os olhos. Surpreendente foi o pedido que me fez de seguida: “podes ajudar-me a conseguir autorização para obter o estatuto de refugiado e poder sair do Iraque?”

 

O meu guia limitou-me a cinco minutos em cada local. “Mais do que isso significa dar tempo a quem alguém planeie algo contra ti”, disse-me Bassim. Já foi assim, aquando de outras vindas ao Iraque. Como tal, as reportagens acabam por ser pedaços de histórias, o que nos obriga a uma maior exposição, pois é necessário passar o dia na rua. Não é pelo risco, é por querer contar mais e não conseguir que me sinto frustrado.

publicado por Luís Castro às 15:56
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De Patti a 21 de Março de 2008
O seu profissionalismo e coragem são notáveis. Não fique frustrado porque o que parece pouco para si é imenso para nós

Como é que consegue?

Será mesmo verdade que o homem é um animal de hábitos e o facto de o Luís estar há tanto tempo nessa vida de risco eminente, faz com que já não pense no perigo que se cruza consigo, minuto a minuto?

Muito ânimo e parabéns para si e também para o Bassim, porque se é verdade que você corre riscos por amor à sua profissão, sabe sempre que vai voltar......ao passo que ele tem de aí continuar.
De Luís Castro a 21 de Março de 2008
Patti,
as suas palavras "calaram-me" fundo.
E é verdade, ao fim de 17 guerras ou situações de conflito, acabamos por ter como principal objectivo enviar a nossa reportagem para Lisboa e por vezes até nos esquecemos que temos que voltar vivos. Quando se ama o que faz, é assim que acontece. Estou a editar mais duas reportagens para mandar por net para Portugal, enquanto lá fora se ouvem algumas explosões e rajadas de metralhadora. Os americanos estão muito activos esta noite.
LC
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Jornalista desde 1988
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- Colaborações em Rádio:
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- Colaborações Imprensa:
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RTP:
Editor de Política, Economia e Internacional na RTP-Porto (2001/2002)
Coordenador do "Bom-Dia Portugal" (2002/2004)
Coordenador do "Telejornal" (2004/2008)
Editor Executivo de Informação (2008/2010)

Enviado especial:
20 guerras/situações de conflito

Outras:
Formador em cursos relacionados com jornalismo de guerra e com forças especiais
Protagonista do documentário "Em nome de Allah", da televisão Iraniana
ONG "Missão Infinita" - Presidente

Obras publicadas:
"Repórter de Guerra" - autor
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