.
Sinto-me frustrado. Em televisão, sem imagem é muito difícil contar histórias. E é cada vez mais complicado trabalhar lá fora. Não é novidade para mim, mas o estranho é que apesar de Bagdade estar um pouco mais segura, os iraquianos fogem de nós quando os abordamos nas ruas. Temem que a resistência os ataque por falarem com jornalistas estrangeiros ou que sejamos um chamariz para mais um carro bomba. Como se não bastasse, há momentos perdemos uma cassete, foi-nos confiscada depois de um incidente com disparos junto ao Hotel Palestina. Nada de muito importante, mas é demonstrativo do clima que se vive nas ruas da capital.
Esta manhã, eu e o repórter de imagem Paulo José Oliveira percorremos Karada street, um dos locais mais visados pelos atentados, e só a muito custo conseguimos que alguém falasse connosco. Nos últimos dias, três carros bomba explodiram nesta estrada fazendo dezenas de mortos. É uma das duas reportagens que esta noite vamos começar a editar para emitir nos telejornais dos próximos dias. A outra será com polícias e soldados iraquianos que ontem deixaram que os acompanhássemos por alguns minutos. A certa altura, um dos oficiais iraquianos desabafou: “os americanos têm músculos mas os iraquianos possuem cabeça". Quando lhe pedi que o repetisse para a câmara, recusou de imediato. “Trabalho com eles todos os dias”, arregalando os olhos. Surpreendente foi o pedido que me fez de seguida: “podes ajudar-me a conseguir autorização para obter o estatuto de refugiado e poder sair do Iraque?”
O meu guia limitou-me a cinco minutos em cada local. “Mais do que isso significa dar tempo a quem alguém planeie algo contra ti”, disse-me Bassim. Já foi assim, aquando de outras vindas ao Iraque. Como tal, as reportagens acabam por ser pedaços de histórias, o que nos obriga a uma maior exposição, pois é necessário passar o dia na rua. Não é pelo risco, é por querer contar mais e não conseguir que me sinto frustrado.