Segunda-feira, 29 de Março de 2010

A guerra é uma droga !

“War is a drug!” Assim começa o “Estado de Guerra”, recentemente premiado como o merlhor filme do ano.

A frase é do Chris Hedges, jornalista americano, correspondente de guerra, que já passou por mais de 50 países.

 

 

Há dois anos decidi mostrar a guerra como ela é no Iraque: nua, dura e crua. Foram trinta minutos de combates, tiroteios, explosões, mortos e feridos.

Desta vez decidi ir para a linha da frente da guerra do Afeganistão para lhe contar as histórias. E há tantas.

Cada soldado tem uma história, uma família, sonhos e planos de vida.

 

Na maioria não passam de jovens que mais não fazem do que tentar sobreviver.

Comecei a reportagem com o meu amigo McMillan, também ele um jovem americano de 22 anos que foi para o Iraque cheio de sonhos.

McMillan queria poupar 35 mil dólares para pagar o curso da mulher e ele poder acabar medicina que deixara a meio. Morreu numa explosão no dia em que completava 18 meses de casado. Pouco antes telefonara à mulher para lhe dizer que a amava.

 

 

Alguns admiraram-se por estarmos tão expostos.

Estando "embedded" na linha da frente não será fácil aos talibãs empreenderem uma acção para nos raptar, mas estamos muito mais expostos ao perigo de um ataque ou da explosão de bombas improvisadas. Se os americanos são o alvo e se nós estamos com eles, é fácil perceber que também passamos a ser considerados como inimigos.

 

Os americanos pediram-me para não me afastar deles durante as patrulhas de combate, mas se queremos ter bons ângulos de imagem, é inevitável que quebremos as regras. Sempre que o fizemos, fizemo-lo com a consciência dos riscos que corríamos.

 

 

Alguém perguntou porque não fizemos entrevistas a ex-insurgentes ou aos próprios combatentes talibãs. Simples: porque estávamos “embedded” com os americanos, ou seja, reportávamos apenas de um dos lados em conflito. Depois, é extremamente difícil estabelecer contactos com a resistência. É preciso estar lá muito tempo para que se possam criar relações de confiança. Recordo-me que no enclave angolano de Cabinda, passei quinze dias a olhar para um telefone satélite à espera de um telefonema dos guerrilheiros que se escondiam na floresta do Maiombe. No total estive mais de um mês sem emitir qualquer reportagem. Tudo isto custa muito dinheiro.

 

Porque também o perguntaram, a “Operação Afeganistão” custou pouco mais de 10 mil euros aos contribuintes. Barato, se compararmos com outras operações no Iraque, Angola, Zaire, Congo, Guiné, Venezuela, etc. Nessa verba estão incluídas: viagens (Lisboa-Frankfurt-Kabul-Kandahar e regresso), excesso de bagagem, residencial em Kabul, transportes e despesas diversas.

 

 

E porque há quem esteja convencido de que recebemos fortunas por ir para estes cenários de guerra, fiquem sabendo que não ganho nem mais um cêntimo. Pelo contrato especial que assino antes de partir, recebo apenas 100 euros por dia para pagar toda a alimentação e despesas pessoais, abdicando inclusive das folgas que ficam por gozar.

 

No total, a nossa deslocação foi de 19 dias, mas, na verdade, a reportagem que viram no “ar” foi fruto de apenas 4 dias de trabalho efectivo. Passámos 2 dias de viagem de e para o Afeganistão, 1 de espera em Kabul, 2 de e para Kandahar, 6 de deslocações em colunas militares dentro do Afeganistão e mais 4 em Kabul para editar a reportagem e esperar por uma entrevista com o general McCrystal. Digo isto porque alguns de vocês sentiram que passei pouco tempo com os portugueses. É verdade, só estivemos juntos um dia. Um dia para 9 minutos de material editado.

Antes de regressar a Lisboa, disse ao coronel Correia que me sentia frustrado por não poder mostrar mais do excelente trabalho que lá têm feito.

 

 

Peço ao tenente coronel Lemos Pires que não me leve a mal, mas vou transcrever uma parte da carta que enviou desde Kabul para alguns amigos e com o meu conhecimento:

 

«Já aqui escrevi no passado, há gente boa e menos boa em todas as áreas, em todas as profissões, mas o Luís é de facto um símbolo de excelência no jornalismo português. Não digo isto por o considerar também meu amigo, afirmo-o com convicção, pela admiração do seu trabalho, da obra produzida, pelos livros que editou, os riscos que correu, as verdades que ousou dizer, as boçalidades que nunca disse, a grande educação e respeito que demonstra por todos, em todos os momentos e fundamentalmente, pelas excelentes reportagens que realiza. Connosco foi de uma correcção enorme. Sabia o que queria mas nada impôs, nós nada lhe impusemos também.»

 

 

«Gostámos de os ter por cá. Sentimos orgulho por termos sido assim referidos, ainda mais por esta boa imagem de Portugal e das suas Forças Armadas. Graças a esta reportagem na “Linha da Frente”, os portugueses passaram a saber o que fazemos por cá em seu nome.»

 

Eu é que te agradeço, Nuno!

A ti e a todos os que aí conheci ou reencontrei.

Vocês são o nosso orgulho!

 

Luís Castro

publicado por Luís Castro às 18:48
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Quinta-feira, 25 de Março de 2010

"Cemitério dos Impérios"

"Embedded" com as tropas norte-americanas no Sul do Afeganistão.

 A reportagem que fiz na Linha da Frente da guerra contra os Talibãs. 

 

 
Luís Castro

 

publicado por Luís Castro às 12:37
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Quarta-feira, 24 de Março de 2010

E se fizéssemos o mesmo?

Todos os dias nós decidimos o que deve ou não deve ser notícia.

Mas como tornar esse processo mais transparente?

 

Há não muito tempo, discuti o assunto com um dos decanos da nossa profissão. Coloquei-lhe a hipótese de mostrar aos nossos "públicos" os critérios que nos levam a escolher determinados assuntos em detrimento de outros. Respondeu-me que nem os jornalistas nem os "públicos " estariam preparados para esse passo.

 

Hoje soube que o New York Times começou a disponibilizar no seu site uma gravação com as reuniões de alinhamento do jornal.

 

 

 

 

Miguel Sousa Tavares escreveu recentemente no Expresso que "A maior e mais real ameaça à liberdade de imprensa é o tipo de jornalismo que hoje se faz e que é ditado, primeiro do que tudo, pela necessidade de vender informação e conquistar audiências a qualquer preço". Não posso estar mais de acordo.

 

Guardo as palavras de Rupert Murdock, o magnata dos media, que um dia se questionou:

"Como devemos tratar quem está do outro lado do ecrã, como cidadãos ou como telespectadores? Como cidadãos, dando-lhes as ferramentas necessárias para interpretarem o país e o mundo; ou como telespectadores, fornecendo-lhes conteúdos capazes de gerar audiências?

Responde eu:

venceu o segundo.

Os espaços de informação têm cada vez mais histórias e cada vez menos notícias.

 

Luís Castro

publicado por Luís Castro às 15:52
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Terça-feira, 23 de Março de 2010

A RTP deve ser privatizada?

  

Teixeira dos Santos acaba de dizer que admite privatizar a RTP.

 

O Ministro das Finanças respondia a uma pergunta do deputado socialista João Galamba que referiu; “faria mais sentido privatizar a RTP do que a REN”.

 

Teixeira dos Santos diz que recomenda a estabilização do desequilíbrio financeiro "antes da questão ser eventualmente colocada".

 

A RTP deve ser privatizada?

 

Luís Castro

publicado por Luís Castro às 15:23
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Sexta-feira, 19 de Março de 2010

A Televisão precisa de ti, Herman!

Saí da redacção para ir ao estúdio ao lado assistir à fantástica homenagem que o programa «Portugal no Coração» fez ao Herman José no dia do seu aniversário.

 

 

Ao longo de duas horas, o «Portugal no Coração» foi recordando momentos memoráveis do Herman. O próprio mostrou que está ao seu melhor nível.

Ri como já não ria há muito tempo.

  

Durante o programa, dei comigo a pensar:

FALTA MEMÓRIA NA TELEVISÃO PORTUGUESA !

 

Luís Castro

publicado por Luís Castro às 22:36
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Quinta-feira, 18 de Março de 2010

Tudo por uns minutos de fama...

Até onde poderá ir a Televisão?

 

A Televisão pública francesa exibiu ontem à noite um documentário sobre os limites dos Reality Shows.

O programa tentava perceber até onde as pessoas estão dispostas a chegar por uns minutos de fama, sujeitando-se até a choques eléctricos próximos de um nível fatal para a vida humana. 

 

E vocês,

o que estariam dispostos a fazer por uns minutos de fama? 

 

 Luís Castro

publicado por Luís Castro às 19:50
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Domingo, 14 de Março de 2010

A segunda vida do António

Recordam-se do condutor que socorri após um acidente no IC2,

no final do ano passado?

 

 

Pois bem, fui convidado a ir à Guarda pela família Amaro.

Quiseram recordar o que aconteceu naquela tarde de 30 de Novembro.

 

 

O António fez 60 anos, ou como disse a sobrinha:

"Este foi o primeiro aniversário da sua segunda vida".

 

 

 Pedi ao António que aproveite bem esta segunda oportunidade que a vida lhe deu. 

 

 

Conhecer a história do acidente do António Amaro em:

 

http://cheiroapolvora.blogs.sapo.pt/tag/entre+a+vida+e+a+morte 

http://cheiroapolvora.blogs.sapo.pt/tag/n%C3%A3o+sou+her%C3%B3i

 

Luís Castro

publicado por Luís Castro às 21:28
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Quarta-feira, 10 de Março de 2010

“Greves são do século passado!”

A propósito da greve dos pilotos, o presidente da TAP diz que as greves já não fazem sentido, para logo acrescentar que “são do século passado”.

 

 

Fernando Pinto deve ter procurado inspiração no seu presidente e ex-sindicalista, Lula da Silva, quando disse que “Greve sem cortar o ponto são férias remuneradas.”

 

Não vou comentar a validade da argumentação dos pilotos, mas relembro a Fernando Pinto uma frase de Martin Luther King:

"A greve é a linguagem dos que não são ouvidos”.

 

publicado por Luís Castro às 16:07
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Terça-feira, 9 de Março de 2010

Últimas do Afeganistão

Por questões de programação da RTP, a reportagem "Cemitério dos Impérios", que retrata a linha da frente da guerra contras os Talibãs, só irá para o "ar" no dia 17 de Março - de amanhã a oito dias -, logo a seguir ao Telejornal.

 

 

Com a Malalai, uma menina do vale de Arghandab, no Sul do Afeganistão.

 

 

Com militares afegãos na entrada Norte de Kabul.

 

 

Montanhas do Norte do Afeganistão.

 

 

Com o coronel Correia no Centro de Operações Tácticas da Divisão de Kabul do exército afegão.

 

 

Na loja do Mustafah, o vendedor de Burkas em Kabul.

 

 

O meu motorista com as burkas que comprei para oferecer a alguns amigos.

 

 

Comendo uma sopa típica afegã numa ponte do centro de Kabul.

 

 

Com dois amigos afegãos num dia de chuva e muito frio.

 

 

Luís Castro

publicado por Luís Castro às 01:38
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Sábado, 6 de Março de 2010

Onde estão os Talibãs?

Já não sei se estão no Afeganistão ou se estão por cá! 

 

 O Procurador Geral da República desconfia dos Procuradores

... chega a entregar despachos  com marcas e assinaturas diferentes para detectar fugas de informação.

A Procuradora Geral Adjunta defende que os Magistrados devem ser escutados.

O Bastonário dos Advogados acusa os Magistrados de terem uma agenda política

... mais ou menos oculta. "Basta ouvir os discurso púlico de alguns", diz.

Os Magistrados dizem que o Bastonário não tem credibilidade

... e que defende "quem é objecto de investigação na área da política"

O Bastonário contra ataca: "O poder judicial - ou uma parte dele - está apostado em derrubar o Primeiro-Ministro.

 

Pergunto eu:

A Justiça não é para pacificar a sociedade?

 

Reportagem do debate que fui moderar com o Bastonário da Ordem dos Advogados, em Cabeceiras de Basto.

 

Luís Castro

 

publicado por Luís Castro às 00:23
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Perfil

Jornalista desde 1988
- 8 anos em Rádio:
Rádio Lajes (Açores)
Rádio Nova (Porto)
Rádio Renascença
RDP/Antena 1

- Colaborações em Rádio:
Voz da América
Voz da Alemanha
BBC Rádio
Rádio Caracol (Colômbia)
Diversas - Brasil e na Argentina

- Colaborações Imprensa:
Expresso
Agência Lusa
Revistas diversas
Artigos de Opinião

RTP:
Editor de Política, Economia e Internacional na RTP-Porto (2001/2002)
Coordenador do "Bom-Dia Portugal" (2002/2004)
Coordenador do "Telejornal" (2004/2008)
Editor Executivo de Informação (2008/2010)

Enviado especial:
20 guerras/situações de conflito

Outras:
Formador em cursos relacionados com jornalismo de guerra e com forças especiais
Protagonista do documentário "Em nome de Allah", da televisão Iraniana
ONG "Missão Infinita" - Presidente

Obras publicadas:
"Repórter de Guerra" - autor
"Por que Adoptámos Maddie" - autor
"Curtas Letragens" - co-autor
"Os Dias de Bagdade" - colaboração
"Sonhos Que o Vento Levou" - colaboração
"10 Anos de Microcrédito" - colaboração

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