Sexta-feira, 11 de Março de 2011

A RTP nunca pára!

A entrevista ao Correio da Manhã

 

“A RTP é um porta-aviões enorme que nunca pára”

A segurar o ‘barco’ desde a saída de José A. Carvalho, o editor executivo de Informação já recusou vários convites da concorrência, um deles de Nuno Santos, o seu novo director

 

O que vai mudar com a saída de José Alberto Carvalho?

Esperemos que não mude muita coisa. A RTP é um porta-aviões enorme, que está em andamento, que nunca parou e nunca parará. Obviamente que todos ficamos mais pobres quando vemos pessoas como o Zé Alberto e a Judite de Sousa partirem. Mas este porta-aviões não pode parar.

 

O que disse ao José Alberto Carvalho quando me despediu dele?

Vou fazer-te a vida negra! Sou muito amigo do Zé Alberto, já nos conhecemos há mais de 20 anos. Começámos juntos na Rádio Nova, no Porto. Entretanto ele foi para a SIC e eu continuei na RTP. Ele não nos abandonou, continua aqui connosco e deixou aqui mais amigos do que julga. Contudo, não é por sermos amigos que lhe vamos facilitar a vida. Desejo-lhe toda a felicidade e toda a sorte.

 

O que acha da escolha de Nuno Santos para director de informação?

Acho que ele percebe mais de programação do que de informação. Mas temos um bom relacionamento e cá estaremos para o ajudar.

 

Como está o ambiente na redacção?

As pessoas estão tranquilas. Não vejo motivos para apreensão, muito pelo contrário. Estou nesta casa há 20 anos e já vi chegar e parti muita gente.

 

Mas mantém-se fiel à RTP...

Recusei dois convites da TVI, um da SIC Notícias (o Nuno Santos abordou-me), ser chefe de gabinete de um ministro e um grande salário no estrangeiro. E porquê? Porque tenho um amor enorme a esta casa. Tudo o que sou devo-o à RTP e é aqui que me sinto bem. Se há coisa que eu não perdoo é ingratidão. 

 

Já agora que convite foi esse no estrangeiro?

Convidaram-me para negociar café no Zaire, em 1998. Na altura pagavam-me 15 mil euros por mês. Mas não aceitei. Gosto muito do que faço e faço o que gosto.

 

É repórter de guerra, mas agora tem estado mais fechado na redacção.

Gosto é de andar no terreno, em cenários de guerra. Agora vejo a guerra na régie, pois se não fosse estas mudanças na RTP eu estaria na Líbia. Foi uma das decisões mais difíceis da minha vida nos últimos anos.

 

Trocar a guerra na Líbia pela guerra na RTP?

Emocionalmente queria estar lá, mas ao mesmo tempo sabia que deveria estar aqui, neste período sensível para a estação. Contra tudo o que me impulsionava decidi ficar.

 

Chegou a ser convidado para director de informação?

Não. O meu nome vem à baila pela terceira vez. Já é quase um hábito.

 

A nomeação de um director-geral seria uma boa opção?

Julgo que sim. Esta casa precisa de um rosto. Precisamos de aproximar rádio e televisão, informação e produção. Temos de aproveitar as sinergias e todas as valências que temos.

 

Fica preocupado quando se fala em privatizar a RTP?

É uma decisão política. Nunca me preocupei muito com isso. A minha preocupação e por todos os dias esta máquina a andar, desde o ‘Telejornal’ ao ‘Hoje’. Desenganem-se os que julgam que a RTP tem o fim. Poderá, um dia, ter outro destino. Mas um fim, como serviço público, nunca. Temos de ter uma grande responsabilidade pois os dinheiros são públicos e a nossa tarefa é pública. Somos uma marca de confiança e estamos aqui para lutar até à última gota para defender aquilo que nos move: colocar no ar um produto cada vez melhor. Tudo o resto é política. Não nos diz respeito. Não tenho nada essa visão fatalista. Sou muito optimista e vivo cada dia como se fosse o último.

 

Quando é que regressa à guerra?

Já fiz 21 cenários de guerra. A minha vida tem sido essa. Isso mudou-me muito como homem. Tornou-me numa pessoa muito prática e pragmática e relativo muito as coisas. Daí o facto de isto não me incomodar muito. Problemas? Problemas é ter um bebé a morrer-me nos braços e eu não poder fazer nada. Problemas é embarcar num avião rumo a um cenário de guerra sem saber se vou voltar e voltar a ver a minha mulher e os meus filhos. E quando volto, volto diferente. Estou-me nas tintas se tenho um telemóvel de última geração ou se me ultrapassam pela esquerda. O meu ranking de prioridades inverteu-se radicalmente. Só não há solução para a morte. Havia uma amiga minha que quando passava por mim dizia: estás a precisar de um bafo de pólvora. Já a Margarida Rebelo Pinto escreveu, num artigo, que eu precisava de ir à guerra à procura da minha paz. É um pouco isso que acontece.

 

E é disso que precisa neste momento?

Já me sinto um pouco irrequieto. Preciso de ir aos locais, tocar cheirar, para relatar. Criei um blogue chamado ‘Cheiro a Pólvora’ exactamente para explicar isso. É preciso ir onde se mata e onde se morrer para se compreender a essência do conflito.

 

Nunca lhe perguntam porque o faz?

Muitas vezes. Porque sou casado e tenho dois filhos. Mas a guerra não só me deu uma dimensão humana muito grande como também, e acima de tudo, me dá a possibilidade a estar onde se faz história, de poder testemunhar esses momentos e de poder relatá-los. Isso é a grande essência, não só do jornalismo mas das reportagens de guerra. Não há dinheiro que pague isso. Aliás, não dá dinheiro, nem fama nem glória. Quem me conhece sabe que sou uma pessoa muito discreta.

 

É fácil conciliar o trabalho de repórter com o de editor executivo?

Sinto-me numa encruzilhada. Será que me devo afastar daquilo que gosto de fazer – as reportagens de guerra – para me embrenhar mais na estrutura da direcção de informação, entendendo que esta é uma evolução natural na minha carreira profissional? Cada vez menos consigo ter um pé para cada lado. Não sei onde isso me vai levar.

 

Muitas vezes as imagens de guerra e de fome são banalizadas nos noticiários, remetidas para o final do alinhamento...

A proximidade é muito importante. É normal que estejamos mais sensíveis ao que acontece na Líbia, onde há portugueses, do que no Sudão, onde não há portugueses. Mas concordo que os noticiários dão pouco espaço ao que passa para lá do nosso burgo. Isto também pode ser um pouco a imagem do País. Por vezes o destaque que se dá ao que se passa no mundo quase se limita aos fait divers. De uma forma genérica, os espaços informativos têm cada vez mais histórias e cada vez menos notícias. Sou mais adepto do ‘hardnews’ e acho que os públicos só têms a lucrar com isso. É esse o nosso papel como serviço público.

 

Qual foi o seu primeiro conflito?

Zaire em 1998. Fui preso duas vezes, não foi bonito. Também fui preso na Guiné e interrogado com uma arma apontada à cabeça. A última vez que fui preso foi no Iraque, pelas tropas norte-americanas. Estive três dias desaparecido. Também não foi agradável. No final pediram-me desculpas mas ficaram com todo o material e com o jipe. Mas como sou muito teimoso, quando me libertaram voltei a entrar no Iraque, aluguei tudo novamente à revelia dos norte-americanos. Essa foi a grande experiência no Iraque: conhecer a guerra do lado do povo do exército mais fraco. E se entrei no Iraque com uma visão, sai de lá a pensar completamente o contrário. O que me tinham vendido não era a realidade. Viver com aquela gente, comer com eles, dormir com eles, sentir o perigo de aparecer um avião e sermos bombardeados, leva-nos a compreender as coisas de outra forma, pois entramos na nossa necessidade de sobrevivência. É o que aquelas pessoas fazem: sobreviver. E quando nos dizem que o que elas precisam é de liberdade e democracia estão redondamento enganados. O que aquele povo precisa é de segurança. Só depois podemos pensar em liberdade e democracia.

 

Recorde alguns dos episódios mais marcantes vividos nos cenários de guerra?

O primeiro que mais me chocou foi ver alguém a ser apredejado até à morte, em Kinshasa, 1998. O segundo foi terem trazido um prisioneiro até mim para filmar o momento em que lhe iam cortar a cabeça com uma catana. Acabei por trocar a sua vida por cigarros. Estava na guerra de Angola e era o único branco no meio de cinco mil homens. Troxeram-me aquele prisioneiro para o interrogar e filmar a sua morte. Nesse momento colocou-se uma dúvida terrível na minha cabeça: o que é que eu faço? Filmo e tenho uma grande imagem, capaz de dar a volta ao mundo e tornar-se famoso ou interfiro na acção e tento salvá-lo? É uma fracção de segundos em que imperam os nossos valores enquanto pessoa.

 

E decidiu intervir?

Sim, porque também senti que podia evitar a morte daquele homem. Já em Kinshasa, por exemplo, se inteferisse acabaria por ser morto também. Num outro momento, em Bagdad, convidaram-me para filmar um grupo da Al-Qaeda a preparar e armadilhar um carro para um atentado e o próprio atentado. Se na situação de Angola sei que agi bem, nesta ainda tenho as minhas dúvidas. Recusei e a revista ‘Time’ fez a reportagem. Seja como for, fiquei com a consciência tranquila e isso para mim é o mais importante.

 

Mas uma das regras do jornalismo é, precisamente, não intervir...

Não cumpro essa regra. Não sou adepto do jornalismo a preto e branco. Não temos de esconder as emoções, mas também não devemos explorá-las. O consenso é a melhor regra para tudo. Ninguém nos prepara para estes momentos, nem a universidade nem o nosso dia a dia. De qualquer forma, quando chegamos ao momento temos de tomar uma decisão. E essa decisão é tomada de acordo com os nossos valores.

 

Como é que a sua família reage quando parte para um local em guerra?

O meu filho tem 15 anos e ficou em pânico quando pensou que eu ia para a Líbia. Houve uma altura em que não tinham consciência, pois eram muito pequenos, mas agora já têm noção do risco e do perigo. Mas tenho a sorte de ter uma mulher que compreende e que me dá todo o suporte de estabilidade familiar. Sem ela nunca conseguiria fazer isto.

 

E como é o regresso a casa, ao trabalho, a outra realidade?

Volto uma pessoa diferente. Sinto necessidade de me isolar. Em Portugal não há uma sensibilização para o stress a que os jornalistas são submetidos neste tipo de cenários. Por isso arranjei os meus próprios mecanismos. Vou para a aldeia dos meus pais, Cabeceiras de Basto, ouvir os passarinhos, dar uns mergulhos no rio, passear no monte durante uma semana ou dez dias, para me devolver à sanidade mental. E depois de me reposicionar volto ao meu dia a dia.

 

Quando escreveu o livro ‘Repórter de Guerra’ teve de reviver todas essas memórias?

A minha mulher dizia-me que eu andava muito inconstante, muito irritadiço, pois estava a desenterrar todo essas memórias. Mas eu sinto-me uma pessoa muito bem resolvida e arrumada interiormente e isso ajuda muito a ser uma pessoa tranquila.

 

Ainda acredita que as suas reportagens podem mudar o mundo?

Vivi uma experiência muito interessante. O embaixador angolano em Israel disse-me que foram as minhas reportagens que impediram que Angola enviasse soldados para Bissau quando rebentou a guerra na Guiné, pois deram uma perspectiva real do que estava a acontecer. Senti claramente que tinha interferido, involuntariamente. Aliás, julgo que essa é a missão de um jornalista. Estamos sempre a influenciar alguém. Informar cria sempre consequências.

 

Numa guerra é difícil agradar a ambas as partes...

Geralmente o jornalista é o alvo a abater. É o incómodo, que geralmente transmite aquilo que alguém não quer. No Iraque, estive três dias no deserto, a minha família julgava que estava morto, fui espancado, humilhado e outras coisas que vou levar para a cova. Não passei o que passaram os prisioneiros de Abu Ghraib, mas bebi do cálice. Eles perceberam que eu estava a informar sem filtro. Qualquer imagem podia ser perigosa para os Estados Unidos, como mostrar uma criança vítima de um bombardeamento descontrolado. Por isso, há sempre alguém que beneficia com o que o jornalista divulga, mas também há sempre outra parte que não.

 

Alguma vez pensou que ia morrer?

Já. E é assim que vou começar o meu próximo livro. Uma criança soldado, que não tinha mais de 12 anos, um miúdo a tentar ser homem, de kalashnikov na mão, em Kinshasa, 1999, consegue isolar-me do grupo e percebi claramente que me ia matar. Fecho os olhos. Oiço um tiro, sinto-me vivo, oiço um segundo, abro os olhos. Era o Carlos Pinota (repórter de imagem)que começou a distribuir tabaco e criou uma enorme confusão. Eles começaram a lutar entre eles e nós conseguimos fugir. O Pinota salvou-me a vida sem saber o que estava a fazer. E, sim, é como se costuma dizer que a vida passa à frente dos nossos olhos. A única coisa que pensei foi: acerta-me no meio dos olhos para não sentir.

 

Como lida com a morte?

Ver alguém morrer não me choca, banalizei esse sentimento, mas em contrapartida apurei outros. Sou incapaz de não reagir ao sofrimento de uma criança, por exemplo. Por isso fundei uma Organização Não Governamental, a ‘Missão Infinito’, através da qual faço algumas iniciativas de intervenção social. É que há uma coisa que me incomoda muito: nós somos jornalistas e relatamos diariamente os males da sociedade, os problemas do meio onde nos inserimos. Mas depois acabamos o nosso trabalho e desligamos. Afinal qual é o nosso papel? Acho que também temos o dever de intervir socialmente, cada um à sua maneira. Não devemos ser meros informadores. Devemos ser mais interventivos, não esquecendo, obviamente, os parâmetros da nossa profissão.

 

Fale da ‘Missão Infinita’?

Existe há três anos e estamos a tentar criar um calendário de actgividades. Queria voltar a esse papel de intervenção social se possível ainda este ano, com algumas iniciativas na área da saúde.

 

Em Portugal ou no estrangeiro?

Acho que não nos devemos esquecer que existem dificuldades em Portugal. A tendência é sempre para ajudar os pretinhos. Existem urgências e necessidades muito urgentes em Portugal.

 

Foi condecorado pelo Estado Maior do Exército...

Um momento muito importante na minha vida. É o reconhecimento pelo trabalho que fazemos e todos gostamos de ser reconhecidos. Andamos neste mundo à procura de três coisas: sobreviver, sermos reconhecidos e sermos felizes. Eu já consegui essas três coisas.

 

PERFIL

Luís Castro nasceu em Matosinhos há 44 anos. Trabalhou oito anos em rádio, até entrar para a RTP. Foi editor de Política, Economia e Internacional na RTP-Porto, coordenador do ‘Bom-dia Portugal’ e do ‘Telejornal’. Actualmente é editor executivo de Informação. Já esteve em 21 conflitos internacionais, memórias que retrata no livro ‘Repórter de Guerra’. Há três anos criou a organização não governamental Missão Infinito. Em 2010 foi condecorado pelo Estado-Maior do Exército com a medalha de D. Afonso Henriques

 

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publicado por Luís Castro às 18:31
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Quinta-feira, 10 de Março de 2011

Mil empregos por semana

A RTPN tem a partir de hoje um programa inédito em televisão.

 

O "RTP - Bolsa de Emprego" é uma parceria RTP/Sapo Emprego.


09:00 - segunda/ sexta
11:30 - sábados/domingos

 

 


ISTO É SERVIÇO PÚBLICO!!!

 

http://www.dn.pt/inicio/tv/interior.aspx?content_id=1890666&seccao=Televis%E3o

 

Luís Castro

 

 

 

publicado por Luís Castro às 20:29
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Segunda-feira, 7 de Março de 2011

Nas redes sociais

Os perigos e as vantagens para a sua empresa.

 

Luís Castro
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publicado por Luís Castro às 14:42
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Perfil

Jornalista desde 1988
- 8 anos em Rádio:
Rádio Lajes (Açores)
Rádio Nova (Porto)
Rádio Renascença
RDP/Antena 1

- Colaborações em Rádio:
Voz da América
Voz da Alemanha
BBC Rádio
Rádio Caracol (Colômbia)
Diversas - Brasil e na Argentina

- Colaborações Imprensa:
Expresso
Agência Lusa
Revistas diversas
Artigos de Opinião

RTP:
Editor de Política, Economia e Internacional na RTP-Porto (2001/2002)
Coordenador do "Bom-Dia Portugal" (2002/2004)
Coordenador do "Telejornal" (2004/2008)
Editor Executivo de Informação (2008/2010)

Enviado especial:
20 guerras/situações de conflito

Outras:
Formador em cursos relacionados com jornalismo de guerra e com forças especiais
Protagonista do documentário "Em nome de Allah", da televisão Iraniana
ONG "Missão Infinita" - Presidente

Obras publicadas:
"Repórter de Guerra" - autor
"Por que Adoptámos Maddie" - autor
"Curtas Letragens" - co-autor
"Os Dias de Bagdade" - colaboração
"Sonhos Que o Vento Levou" - colaboração
"10 Anos de Microcrédito" - colaboração

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