Terça-feira, 29 de Julho de 2008

O McMillan morreu...

Ontem chorei. Muito! E como há muito não chorava.

A meio da tarde recebi uma notícia que não esperava: o McMillan tinha morrido numa explosão no Iraque.

Tentei esconder da redacção as lágrimas que me caíam no teclado do computador. Não consegui. Fazer a régie durante o Telejornal tornou-se doloroso. Mais ainda quando os muitos monitores que estavam à minha frente multiplicaram as imagens dos últimos atentados no Iraque.

Para quem não sabe, o McMillan é um amigo que guardarei para sempre. Juntos passámos muitos e intensos momentos durante a batalha por Sadr City, em Março, nos arredores de Bagdade. Este ranger americano era um jovem de vinte e dois anos que foi ao Iraque poupar o dinheiro suficiente para pagar o curso da mulher que deixara na América. Também ele tinha um sonho…

 

Hi Castro,
This is McMillan's wife.  Unfortunately, I have very very sad news.  My husband, Bill McMillan was killed in action on July 8 ,2008 from injuries sustained when his stryker struck an improvised explosive device (IED).  My husband spoke very fondly of you and enjoyed spending time with you.  I am sorry to tell you such sad news.  I hope you reply back, I would love to hear about your time with my beloved husband.

Sincerely,
Elizabeth McMillan

 

 

http://www.defenselink.mil/releases/release.aspx?releaseid=12053

http://www.25idl.army.mil/Deployment/Remembering/Remembering.htm

http://www.diversityinbusiness.com/Military/Casualties/ix_Mil_Cas.htm

 

Transcrevo duas passagens que escrevi sobre ele.

 

Entramos num dos strikers e McMillan, o socorrista, pergunta-nos de imediato: “Se entrarmos em combate, vocês vão lá para fora ou preferem ficar cá dentro?” Respondo-lhe que iremos para onde eles forem; que estamos ali para filmar tudo o que acontecer. Ele sorri e volta a perguntar: “E se ficarem feridos posso dar-vos morfina, ou são alérgicos?” Vejo que estão preparados para tudo.

(...)

Nesta última ida ao Iraque juntei mais uns quantos amigos: Morris, Aldrige, Finnigan e Kolzoi e McMillan. Alguns são ainda muito novos. No fundo não deixam de ser jovens a tentar sobreviver num mundo que lhes é estranho. McMillan, de vinte e dois anos, confidenciou-me no meio de Sadr City que foi ao Iraque ganhar dinheiro para pagar os estudos da mulher e para também ele poder acabar o curso de medicina quando voltar ao Arkansas. Ele e os outros não querem saber de política, apenas que lhes confiaram uma missão e que a querem levar até ao fim. O paramédico, após sentir alguns projécteis passarem-lhe por cima da cabeça, desabafa: “Ainda faltam onze meses, mas quando isto acabar terei poupado trinta e cinco mil dólares.” McMillan ganha mais cinco mil dólares (4 mil euros por mês) por ter vindo para o Iraque. Se não fosse casado receberia pouco mais de metade. Pensei que ganhassem mais.

 

 

Para quem quiser saber mais sobre o McMillan e sobre o que passámos juntos, podem ir aos links:

 

http://cheiroapolvora.blogs.sapo.pt/5079.html?thread=133591

http://cheiroapolvora.blogs.sapo.pt/5157.html

http://cheiroapolvora.blogs.sapo.pt/5402.html?thread=155674

http://cheiroapolvora.blogs.sapo.pt/5829.html?thread=170949

http://cheiroapolvora.blogs.sapo.pt/6235.html

http://cheiroapolvora.blogs.sapo.pt/7670.html

 

Luís Castro

publicado por Luís Castro às 01:35
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51 comentários:
De ricardo nunes a 29 de Julho de 2008
bom dia Luis ,
os meus sentimentos pela perda de um grande amigo e mais importante, de um ser humano empurrado para uma guerra desnecessária.

infelizmente muitos jovens norte-americanos já morreram nessa mentira criada pela actual administração e que infelizmente para eles e para o mundo, os actuais candidatos à próxima administração, irão continuar a servirem-se deles para enriquecerem meia dúzia de oligarcas monstruosos.

confesso que ainda não tive tempo de ler o seu livro, no entanto o que escreveu sobre o vencimento desses jovens que não passam de carne para canhão, chamou-me à atenção, uma vez que está no iraque a Blackwater , entidade que já deve ter ouvido falar, mercenários pagos a peso de ouro pela administração, ou melhor, pelo contribuinte norte-americano, os quais não respondem perante ninguém, tendo já causado diversos incidentes gravíssimos.
estes mercenários da blackwater ganham cerca de $600 a $800 dólares por dia.

se me permite e se ainda não leu tente dar uma olhada a um livre que causou algum alvoroço nos EUA, Blackwater
The Rise of the World’s Most Powerful Mercenary Army " By Jeremy Scahill.

sei que agora não será fácil, mas seria importante a RTP mostrar ao mundo uma reportagem completa sobre os interesses que se movem no Iraque, e neste caso sobre a Blackwater , a guarda Pretoriana da oligarquia norte-americana.

abraço,

rjnunes
De ricardo nunes a 29 de Julho de 2008
só para complementar o que escrevi:

«As columnist Robert Scheer writes: “All of this (outsourcing) was designed by neoconservative hawks in the Pentagon to pursue their dreams of empire while avoiding a conscripted army, which would have millions howling in the street in protest. We have checkbook imperialism.”

“Blackwater” author Scahill writes that the mercenaries are able “to affix a permanent sieve to the most lucrative feeding trough in the world,” the U.S. budget.»
http://blogbyjakeatunr.blogspot.com/2007/10/blackwater-usa-trigger-happy.html

rjnunes
De Luís Castro a 29 de Julho de 2008
Visto.
LC
De Luís Castro a 29 de Julho de 2008
Ricardo,
este ano fiz uma grande reportagem sobre os 5 anos de guerra no Iraque onde abordei esse tema.
Pode ver no arquivo de Março. A reportagem chama-se "Guerra Sem Fim".
Ab.
LC
De Ana Cristina Brizida a 30 de Julho de 2008
Ola rjnunes,

Tudo o que disse sobre a empresa Blackwater é inteiramente verdade. A sede é no Estado da Virginia perto da casa de uma amiga minha e além de mercenários americanos também estão alguns da América Latina.
Pelo que sei, o livro não se encontra cá à venda - mandei vir pela FNAC há cerca de 2 semanas - e causou grande polémica nos EUA porque é o que melhor descreve o que se passa realmente dentro dessa empresa.
Bjs
Cris
De Luís Castro a 31 de Julho de 2008
Cris e Ricardo,
conheci muitos desses "contratados" ao longo destes últimos sete anos no Afeganistão e no Iraque.
Até fiz algumas amizades, mas também vi que a maioria leva uma vida de m...
Depois é dedo fácil no gatilho...
Bjs e abraços
LC

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Perfil

Jornalista desde 1988
- 8 anos em Rádio:
Rádio Lajes (Açores)
Rádio Nova (Porto)
Rádio Renascença
RDP/Antena 1

- Colaborações em Rádio:
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Diversas - Brasil e na Argentina

- Colaborações Imprensa:
Expresso
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RTP:
Editor de Política, Economia e Internacional na RTP-Porto (2001/2002)
Coordenador do "Bom-Dia Portugal" (2002/2004)
Coordenador do "Telejornal" (2004/2008)
Editor Executivo de Informação (2008/2010)

Enviado especial:
20 guerras/situações de conflito

Outras:
Formador em cursos relacionados com jornalismo de guerra e com forças especiais
Protagonista do documentário "Em nome de Allah", da televisão Iraniana
ONG "Missão Infinita" - Presidente

Obras publicadas:
"Repórter de Guerra" - autor
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