A calma era aparente e o dia de hoje veio mostrar que era apenas isso. O Domingo foi sangrento, com quarenta e sete mortos confirmados até ao momento. O último ataque foi há minutos, com duas granadas de morteiro lançadas na direcção da “Green Zone”. Uma caiu fora da área protegida e a cerca de trezentos metros de onde nos encontramos. O Paulo Oliveira, repórter de imagem da RTP, gravou o que aconteceu a seguir. Felizmente que caiu no meio do rio Tigre, numa das várias ilhotas existentes, acabando apenas por incendiar a vegetação. O nosso hotel está na linha de fogo, entre Sadr City e o enclave fortificado pelos americanos, e as imagens foram captadas a partir da janela do nosso quarto, no oitavo piso do Palestina.
Mas de manhã não foi assim. Quinze disparos, atribuídos aos homens de Moqtada al-Sadr, o exército de Mhedi, visaram a zona verde, acabando alguns por falhar o alvo e atingir zonas habitacionais. Do outro lado do rio, de imediato se ouviu uma voz pelos megafones mandando toda a gente recolher aos abrigos; do lado de cá, dirigimo-nos de imediato na direcção das explosões, mas o trânsito tornou-se caótico com várias estradas cortas e a polícia já não nos deixou aproximar do local. Soubemos mais tarde que tinham morrido dezoito pessoas. Mas podia ter sido muito mais sangrento o dia em Bagdade: um dos disparos caiu no mesmo local e à mesma hora onde ontem filmámos as famílias iraquianas brincando e fazendo piqueniques com os filhos (reportagem no Tejornal da RTP). Se tivesse sido hoje, o dia seria ainda mais horrível.
Outros acontecimentos em Bagdade:
* Homens armados chegaram em três carros e começaram a disparar indiscriminadamente sobre as pessoas que faziam compras numa avenida comercial. Sete pessoas morreram e dezassete ficaram feridas. Os atiradores conseguiram fugir.
*Um carro bomba explodiu num bairro xiita, matando cinco pessoas.
*Um míssil foi lançado contra uma casa num bairro xiita, provocando a morte de cinco pessoas e deixando outras oito gravemente feridas.
Terrível. Coragem!
Para nós é notícia... para eles já não.
É o dia-a-dia desta gente.
Revoltante!
LC
De fcg a 23 de Março de 2008
Um dia a dia de violência! A violência que as políticas geram e alimentam ficcionando uma realidade que não pode interessar a ninguém, mas que condicionam o quotidiano de muitas pessoas.
... é um risco viver e estar nessas paragens!
FCG,
mas eu tenho uma vantagem: daqui a uma semana vou embora. Eles, não. Eles ficam e vão continuar a viver este drama.
LC
De Lina a 23 de Março de 2008
Impressionante ver o lado de lá sem atenuantes. Devido à propaganda dos e.u.a. muitos pensam em iraquianos como todos maus, gostei do Bassim, gostei de perceber que afinal existe vida normal para lá da guerra e do fundamentalismo. Não consigo compreender como se consegue viver no meio dessa insegurança em que não sabemos qual vai ser o próximo alvo e podemos ser nós próprios. A sua coragem e frontalidade é de louvar, quase me sinto um voyeur do qeu aqui leio mas é a realidade, isto é um blog mas o que nos mostra e descreve é real. Há gente a sofrer, há gente a arriscar como o Luís, o Paulo e o Bassim ( perdoe-me a familiariedade mas nestes contornos a formalidade é quase idiota) para mostratrem ao mundo que a honra de se ser humano passa pelo respeito à segurança, liberdade e direito à verdade dos nossos pares.
Agradeço a existência deste blog, agradeço o lado real da guerra que ainda não acabou.
Que regressem bem a Portugal, que Bassim e o povo desse país tenha paz e entenda que os conflitos religiosos estão a matá-los e a só vieram dar espaço, na queda de sadam,à ambição americana do poder do petróleo doa a quem doer.
Abraço.
Lina,
este blogo foi de grande importância para mim. Aproximou-me de quem me ouve e me vê do outro lado do televisor. Assim também deixo passar o que sinto e percebo as vossa dúvidas e opiniões.
LC
Lina,
este blogo foi de grande importância para mim. Aproximou-me de quem me ouve e me vê do outro lado do televisor. Assim também deixo passar o que sinto e percebo as vossa dúvidas e opiniões.
LC
Lina,
este blog foi de grande importância para mim. Aproximou-me de quem me ouve e me vê do outro lado do televisor. Assim também deixo passar o que sinto e percebo as vossa dúvidas e opiniões.
LC
Luís,
Que se pode dizer? É horrível, revoltante, um nojo.
Tenha cuidado.
Beijo
Obrigado, Mona.
Revoltante demais!
Vou tentar ter cuidado com a minha "mona" também.
=:>)
LC
De
Patti a 23 de Março de 2008
A diferença do que nos contou ontem para o que nos conta hoje, é o que para mim define a felicidade: breves instantes de tempo!
Continuação de boa sorte, para todos.
E são tão curtos e tão poucos, Patti.
Obrigado.
LC
De
Phil a 23 de Março de 2008
Ao fim destes dias a acompanhar o blog, só me ocorre dizer isto: Amor à camisola do Jornalismo, para trazer até nós as histórias de homens, mulheres e crianças que sofrem com essa guerra...e claro, a forma quase heróica como a conseguem contar...
Já tínhamos a ideia de como era estar, por exemplo, em Bagdade, mas a perspectiva trazida através do blog, dá uma outra dimensão ao vosso trabalho...
Força e continuem com o vosso excelente trabalho.
(Sugestão: a publicação dos vídeos diários das vossas reportagens aqui no blog)
Phil,
obrigado pelo seu comentário.
E é gratificante saber que contribuimos para que a História fique um pouco mais bem contada.
Quanto às reportagens, elas poderão ser vistas na página da RTP. Mesmo assim, para que este blog possa existir com imagens e fotografias, em muito tem contribuido a equipa de Bolgs do Sapo que me ajudam aí, em Lisboa. Aqui, a internet é muito lenta, está sempre a cair e não tenho ferramentas suficientes.
No futuro tentarei colocar também as peças enviadas.
Abraço
De
Phil a 23 de Março de 2008
Obviamente a sugestão é enquadrada dentro das vossas possibilidades...ter esta interacção é já uma experiência e tanto...
Abraço
Phil,
todas as sugestões são sempre bem recebidas.
Abraço e obrigado
LC
Quando as tropas americanas entraram em Bagdade, Bush apressou-se a dizer que a guerra terminara. A verdade é que ela estava apenas a começar e não se sabe para quando o seu fim.
Repórter de guerra é deveras arriscado e como tal exige muita coragem.
Andesman,
há cinco anos poucos imaginaria o que iria acontecer a seguir. Menos os iraquianos, pois durante vinte e cinco anos este país esteve unido apenas porque as diversas etnias eram reprimidas e as tentativas de extremismo esmagadas pelo punho do regime.
Abraço
LC
De Miguel Dias a 23 de Março de 2008
acho excepcional a coragem dos jornalistas em quererem aproximar-se quando todos querem fugir. Tenho apenas 13 anos, mas quero ser jornalista, acho que os cenários de guerra é o maior ambiente que um jornalista vive
MD13,
em guerra é assim, nós vamos sempre no sentido contrário de todos os outros. Temos que estar lá para contar e, em televisão, sem imagem não há "estória".
Felicidades e se vieres para esta profissão, quem sabe se ainda nos encontraremos.
Abraço
LC
Caro Luís, será que um dia ainda se tornará guia do Bassim em Lisboa?
À parte disso, louvável esta sua iniciativa de aproximar a notícia das pessoas, sem aquela peça montada cheia de formalismos. Este blog mostra o quão poderosa é esta ferramenta, inclusivamente há alguns iraquianos que mantêm blogs.
Tenha muita força, que eu estarei cá para o seguir fielmente.
Mande cumprimentos meus ao Bassim, e ao repórter de imagem que muitas vezes é esquecido.
Um abraço.
Daniel Marques,
Bassim, mais do que um guia já é um grande amigo. Mantenho contacto com ele várias vezes por semana deste 2004. E quem sabe, se um dia ele irá a Portugal. Já tentou ir para a Europa com estatuto de refugiado mas não consegui.
Está dado o abraço aos dois. Eles mandam cumprimentos também para si.
LC, Paulo e Bassim
Caro Luís
O seu blog é tão, ou até mais, importante para mim do que as imensas notícias que vemos a todas as horas.
Infelizmente já nos habituámos a tanta guerra, a tanto horror, o que acaba por nos levar quase à indiferença ao sofrimento alheio...é lá longe.
Mas você traz para muito perto a dor e as pequenas alegrias do dia a dia iraquiano. De repente o Iraque tem para mim um rosto e um nome. Chama-se Bassim.
E vou gostar de saber dele ( e deles) através dos seus posts, mesmo quando regressar.
Você conseguiu transmitir de tal maneira o perigo por que estão a passar ( e eu tenho de pôr no plural para envolver o Paulo Oliveira,o trabalho do operador de imagem é fulcral.O meu pai foi um dos melhores do seu tempo, daí que eu nunca me esqueça deles ) que, de repente parece que são dois amigos de que eu tenho de ter notícias constantes.
Obrigada pelo vosso trabalho.
Eu sei que quem corre por gosto não cansa...mas há correrias bem melhores do que essa !
Bom regresso !
Meu caro,
fico contente por saber.
Mais, é esse "quase indiferença" que queremos combater. Transmitirei ao Bassim o que acabei de ler no seu comentário. Certamente o fará feliz. O mesmo com o Paulo.
Abraço e Femallah (Fique com Deus).
Abraço
LC
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