Continuo engajado com os americanos.
Deixo-vos a segunda parte do relato iniciado no Post anterior e relativo ao que me aconteceu em 2003, quando fui preso a cem quilómetros de Bagdade.
Espero dar notícias frescas brevemente.
Luís Castro
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Não há ninguém na fronteira, só um checkpoint britânico já dentro do Iraque. Deixam-nos seguir apenas com um “boa sorte e cuidado que há minas fora da estrada!”. O GPS aponta-nos para Bassorá. A estrada está deserta. Mais á frente, à entrada da cidade,
depara-se-nos grande movimentação militar e combates a poucas centenas de metros. Os fuzileiros britânicos aconselham-nos a não arriscar. Como ainda não fizemos imagens, esta é uma boa oportunidade para começar a recolher material. O céu está manchado de negro devido aos combates e ao fumo que sai dos poços de petróleo incendiados. Um iraquiano agarra-me pelo braço e aponta para a matrícula do nosso jipe. Não o percebo, mas ele insiste:
- Pum, pum… jornalistas… ontem… jipe Kuweit.
Ok. Já percebi. Refere-se aos jornalistas que foram atacados. Uns conseguiram fugir, outros morreram e há quem esteja desaparecido. Pelos vistos foi aqui mesmo.
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Contornamos os combates e seguimos por uma estrada que atravessa vários quartéis do exército de Saddam. Estão abandonados. Para trás ficaram dezenas de tanques T-55, de fabrico chinês, entrincheirados e prontos para um frente-a-frente que nunca chegou a acontecer. Estamos a um quilómetro de Bassorá e são perfeitamente visíveis os combates que os helicópteros e os aviões de ataque ao solo A-10 travam com os que ainda resistem. Tomamos a direcção oposta e seguimos para Norte.
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Cai a noite e um soldado americano explica-nos que não há tempo para paragens. Vamos ter que conduzir de luzes apagadas. Estamos na tal coluna que Saddam promete cortar às postas. Um capitão confidencia-me que o “comboio” militar se alonga até Kuweit city, numa extensão de quinhentos quilómetros e que vem em andamento há vinte duas horas. Fabuloso. Se não estivesse aqui, não acreditaria. A viagem coincide com uma terrível tempestade. É um pó fino que se levanta do chão, impede a visibilidade e entope a respiração. O segundo dia é passado já na linha da frente e faço uma intervenção em directo no Telejornal. Jamais imaginava o que iria passar-se nos dias seguintes.
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