Os olhares não são nada amigáveis. Juntam-se para ver passar os americanos e trocam algumas palavras
Entramos em mais uma das linhas da frente. Há combates entre o exército iraquiano e o exército de Mehdii. Finingan vai nos comandos da electrónica. Ele vê o que se passa à volta e detecta algo de suspeito a trezentos metros. Com uma das câmaras aproxima a imagem e podemos ver que é uma posição ocupada pelas milícias. De imediato bloqueia a mira de tiro, fazendo rodar a potente metralhadora que está montada na torre e que é manuseada por controlo remoto. A imagem é muito nítida. Há uma arma apontada para nós, mas não se vê ninguém. Apenas dois soldados se mantêm com a cabeça de fora do carro de combate para cobrir a retaguarda. Todos os outros estão dentro do striker, seguindo ao segundo o que se está a passar. Peço a um dos rangers que desça para podermos fazer imagens exteriores. Tenho que ser rápido. Como não posso filmar o ecrã por onde seguimos o que se passa no exterior, uso o zoom de uma das nossas câmaras para mostrar a posição que está a preocupar os americanos. Ao lado, Aldrige masca tabaco enquanto “varre” a nossa retaguarda. Pergunto-lhe o que se está a passar: “Foram disparados tiros na nossa direcção. Vieram do centro da cidade.”
Ficámos na outra posição o resto da noite. Pela manhã, recuamos um pouco para descansar. Dormir é no chão ou num dos dois bancos do striker. Já tenho as nádegas adormecidas. O equipamento é de última geração, mas o conforto é o mesmo que se encontra em qualquer carro de combate: nenhum. Prefiro ficar cá fora, mesmo que as noites sejam frias e eu não tenha mais do que uma t-shirt vestida. O cansaço vence o frio e adormeço. Acordo com o silvo dos projécteis a passarem sobre as nossas cabeças a abrigamo-nos entre os strikers. Ninguém ficou ferido.
Estamos nisto há três dias. Gostava de continuar com os rangers, mas as notícias têm o seu tempo e os jornalistas sabem que se perderem tempo, perdem a notícia. As imagens que temos são únicas e é urgente editá-las e distribuí-las por todo o mundo. Não as vimos no ar, mas foi gratificante saber que as maiores cadeias de televisão mundiais usaram o nosso material várias vezes nos seus blocos noticiosos. Os rangers ficaram entusiasmados ao saber, até porque não se cansavam de perguntar: “Vai passar na CNN?”
Amanhã coloco um terceiro post.
Obrigado a todos.
Luís Castro