Sábado, 3 de Maio de 2008

“Dez dólares para evitar os disparates no Iraque”

 

Meus amigos,

o artigo é de opinião e foi escrito pelo jornalista Leonídio Paulo Ferreira, tendo sido publicado no jornal Diário de Notícias há poucos dias. Porque o acho delicioso e porque o jornalismo também é um exercício de memória, vou transcrevê-lo para o “cheiroapolvora”.

 

* O Bassim ainda não mandou o mail, pelo que não sei muitos mais detalhes sobre o atentado que aconteceu a apenas vinte metros da sua nova casa, nos arredores de Bagdade. Apenas me disse que foi contra uma patrulha do exército iraquiano e que terão morrido alguns soldados.

Luís Castro

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.

O título é Guia para as forças americanas em serviço no Iraque - 1943. E este livrinho em inglês, de capa dura cor de areia, tem sido um sucesso de vendas dos dois lados do Atlântico. Em Nova Iorque custa dez dólares, numa livraria londrina 4,99 libras. Foi editado pela primeira vez há mais de 60 anos, pela Administração Roosevelt, e destinava-se aos militares enviados na II Guerra Mundial para o golfo Pérsico para proteger os poços de petróleo de uma incursão nazi a partir do Cáucaso. George W. Bush podia ter tido acesso fácil ao guia se consultasse a Biblioteca do Congresso, a uns passos da Casa Branca. Nem sequer precisava que a editora Dark Horse tivesse agora feito o livrinho ressurgir das cinzas. Seguem-se algumas dicas que poderiam ter evitado muitos disparates no Iraque, onde já morreram desde a invasão de 2003 mais de quatro mil americanos:

"- Vais entrar no Iraque e és tanto um soldado como um indivíduo, porque no nosso lado um homem pode ser um soldado e um indivíduo. É essa a nossa força se formos espertos o suficiente para usá-la. Pode ser a nossa fraqueza se não o formos."

"- O sucesso ou fracasso americano no Iraque pode depender de como os iraquianos (é assim que o povo é chamado) gostem ou não dos soldados americanos. Pode não ser assim tão simples. Mas, reforce-se, pode ser."

"- O homem alto com as vestes flutuantes que irás ver em breve, com patilhas e cabelo comprido, é um combatente de primeira categoria, altamente treinado na guerra de guerrilha. Poucos combatentes em outros países, na realidade, podem excedê-lo nesse tipo de situação. Se for teu amigo, pode ser um fiel e valioso aliado. Se acontecer ser teu inimigo, tem cuidado! Lembras-te do Lawrence da Arábia? Bem, foi com homens como estes que ele fez história na Primeira Guerra Mundial."

"-Não vais para o Iraque para mudar os iraquianos. Exactamente o oposto. Estamos a combater esta guerra para preservar o princípio 'vive e deixa viver'. Talvez soe a meras palavras quando estás em casa. Agora tens a oportunidade de prová-lo a ti e aos outros. Se conseguires, iremos ter um mundo melhor para vivermos."

"- É uma boa ideia em qualquer país estrangeiro evitar discussões políticas ou religiosas. Isso é ainda mais verdade no Iraque do que na maioria dos outros países, porque acontece que os próprios muçulmanos estão divididos em duas facções, um pouco como a nossa divisão entre católicos e protestantes - assim não apostes os teus dois tostões quando os iraquianos discutem sobre religião. Existem também diferenças políticas no Iraque que surpreenderam diplomatas e estadistas. Não irás ganhar nada se te imiscuíres nelas."

 

publicado por Luís Castro às 02:48
link do post
De Luís Alves de Fraga a 4 de Maio de 2008
Quer dizer, os Americanos eram muito mais sensatos em 1943 do que sessenta anos mais tarde!
Porque será?
De qualquer maneira (ou talvez por causa da sensatez) gostei do que li.
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