Retirado do livro “Repórter de Guerra”
A antiga Nova Lisboa (Huambo) tem menos refugiados do que Silva Porto (Kuito), mas mesmo assim são cem mil… esqueletos. Um desses «mortos-vivos» teve de ser transportado por outros dois não menos «vivos-mortos» até ao local de distribuição de comida. Mais atrás, uma velha caminha com a ajuda de um pau e chora porque, quando chegar, muito provavelmente, já não haverá comida para ela; os gritos das crianças ouvem-se por todo o campo e as mães nem forças têm para elas, quanto mais para os filhos. Um cenário horrível que começa a ser comum.
Estendo o microfone a uma mulher que, deitada no chão, repousa a cabeça sobre o braço direito.
- Tenho fraqueza, não dá para pegar minha criança.
- Como tem alimentado a criança?
Silêncio...
“A pergunta ficou sem resposta porque a Margarida, como não come há três dias, não tem leite para amamentar a bebé. E, à semelhança destas panelas, também a lata desta criança vai continuar vazia.” A parte final do texto da reportagem é acompanhada por uma imagem que mostra uma menina de três ou quatro anos a brincar com uma lata de conserva, ferrugenta e amassada. Vai colocando pauzitos por debaixo da lata, imaginando que está a cozinhar.
A serenidade desta criança contrasta com a gritaria, aqui mesmo ao lado, dos adultos, que se agridem e se insultam por um lugar na fila da distribuição do PAM, o Programa Alimentar Mundial. As mulheres são as mais esgotadas e poucas se mantêm de pé. Os homens deambulam pelo campo, sem que se perceba na busca de quê. “É melhor transportarem-nos de regresso à mata. Assim, a UNITA mata-nos e acaba o sofrimento. Veja as nossas crianças...” É um depoimento forte. Fecho a reportagem dizendo que, segundo as ONG internacionais, dificilmente haverá no mundo um drama humanitário com as dimensões deste que se nos depara em Angola.
O texto relata uma reportagem feita por mim em 1999.
Agora vejam o que é o Huambo em 2008.
Praça Agostinho Neto (antiga Praça Norton de Matos), Com os correios e o Palácio do Governador, respectivamente.
Av. 5 de Outubro, à entrada da cidade.
Nilton, Jorge e Tassi, três irmãos que estudam nas escadas da futura Universidade do Grupo Lusófona no Huambo. Querem ser professores.
Mas ainda nem todos os meninos têm a mesma sorte…
http://groups.msn.com/ComunidadeVirtualdoHuambo/obrigadaluscastro.msnw
Luís Castro no Huambo
A viagem começou atribulada.
Um caminho errado e o jipe enterrado na areia, na Barra do Kwanza.
O Fernando, chefe da aldeia (à esquerda na foto), e o Paulo que nos enganou no caminho e que foi prontamente repreendido pelo chefe: “Isso é traição!”
Em Porto Amboim. Na praia, com os pescadores.
Antes de Sumbe, um convite para “vai se banhar” nas cachoeiras. Não resisti.
O Pedro e o Evaristo acompanharam-me no mergulho.
Até o Sérgio largou a câmara.
Chegámos a Benguela já ao fim da tarde. Nem queria acreditar. Vim cá há menos de dois anos e agora encontrei uma nova cidade. Vou mostrar-vos amanhã.
Quando acordei, tinha esta vista do meu quarto…
Luís Castro no Lobito
... mas não vou sair de Angola!
Uma declaração de um minuto que significa um passo gigante para Angola.
Estão apuradas 75% das mesas de voto
MPLA - 81.6% UNITA - 10.4% PRS - 3.1% ND - 1.1% FNLA - 1.1%
Últimos resultados
MPLA..... 81.72%
UNITA....10.49%
Todos os observadores internacionais reconhecem que as eleições em Angola foram livres, justas e transparentes, apesar dos problemas que consideram terem sido de “ordem logística”.
O líder da UNITA insiste nas irregularidades e diz que “os factos indicam que os resultados finais não reflectem rigorosamente a vontade expressa nas urnas pelo povo angolano”, embora adiante que “a vida vai continuar” e que o seu partido tem um compromisso para com a paz, a democracia e a reconstrução de uma Angola para todos.
Isaías Samakuva é um homem inteligente e sabe que não reconhecer os resultados finais será ainda pior para a UNITA. Os pouco mais de 10% dos votos conseguidos permitem a sobrevivência do partido do Galo Negro como segunda força política, mas exigem uma profunda renovação e, muito provavelmente, terá de ceder o seu lugar.
Os resultados que estão a ser conhecidos têm fortes implicações políticas também para o MPLA. Eduardo dos Santos prometeu acabar com a corrupção, a fome e a pobreza. O partido no poder irá, sozinho, elaborar uma nova Constituição, embora melhor seria se as futuras leis do país tivessem sido antecedidas de discussão e negociação política.
Daqui a quatro anos, nada será perdoado ao MPLA e muito será exigido à UNITA.
Luís Castro
RTP- Luanda
Última actualização com 49% dos votos já contados.
Bengo
MPLA........ 73%
Unita......... 4%
Benguela
MPLA........ 82%
UNITA...... 12%
Bié
MPLA........ 75%
UNITA...... 17%
Cabinda
MPLA........ 57%
UNITA...... 36%
Cuando Cubango
MPLA........ 80%
UNITA...... 14%
Cuanza Norte
MPLA........ 94%
UNITA...... 1%
Cuanza Sul
MPLA........ 89%
UNITA...... 5%
Cunene
MPLA........ 94%
UNITA...... 2%
Huambo
UNITA...... 81%
MPLA........14%
Huíla
MPLA........ 90%
UNITA...... 3%
Luanda
MPLA........ 77%
UNITA...... 14%
Lunda Norte
MPLA........ 67%
PRS.......... 21%
UNITA...... 6%
Lunda Sul
MPLA........ 46%
PRS.......... 46%
UNITA...... 3%
Malange
MPLA........ 92%
UNITA...... 2%
Moxico
MPLA........ 86%
PRS.......... 5%
UNITA...... 4%
Namibe
MPLA........ 95%
UNITA...... 1%
Uíge
MPLA........ 88%
UNITA...... 4%
Zaire
MPLA........ 68%
FNLA.........16%
UNITA...... 9%
MPLA ...... 81,65%
UNITA...... 10,59%
PRS.......... 3.03%
FNLA........ 1,15%
ND............ 1,13%
Estamos no centro de imprensa Aníbal de Melo à espera da actualização dos resultados.
Dizem-me que daqui a quinze ou vinte minutos virão fazer o anúncio.
Até já.
Luís Castro
Luanda
Contados os votos em 35% das assembleias de voto, o MPLA esmaga a UNITA.
MPLA.... 81,73%
UNITA....10,53%
PRS ..... 3,11%
FNLA..... 1,15%
É surpreendente a votação no Bié, onde a UNITA esmagou o MPLA em 1992.
Desta vez, o MPLA, até ao momento, vai à frente com 73% contra apenas 19% do partido do Galo Negro.
No Huambo, MPLA regista 81,53% e a UNITA 14%
Em Cabinda, é menos folgada a vantagem do MPLA com 58% para 35% da UNITA.
Na capital, em Luanda, escrutinadas 20% das mesas, o MPLA consegue 77% dos votos, a UNITA 15% e a FNLA menos de 2%.
Há províncias onde a UNITA chega a ser a terceira força política.
Amanhã de manhã, às 8 horas, a CNE apresentará nova contagem.
Luís Castro
Luanda
http://ww1.rtp.pt/noticias/index.php?headline=98&visual=25&article=362068&tema=31
Repetiram-se os problemas de ontem.
Das 320 mesas em Luanda que deveriam reabrir logo pela manhã, mais de 100 voltaram a não o fazer por falta do “Kit Eleições”.
Tem sido interessante a forma como o presidente da Comissão Nacional Eleitoral vai justificando os problemas logísticos verificados aqui em Luanda, embora sem atribuir a responsabilidade pelo sucedido.
Igualmente interessante é a reacção dos observadores. Prudência e tempo para avaliar. A chefe da missão da União Europeia só vai reagir oficialmente na Segunda-feira, ao meio-dia.
Neste momento há poucas pessoas a votar, mas as urnas vão ficar abertas até ao final da tarde. Ontem, encerraram às dez da noite e a contagem decorreu pela noite dentro.
Luís Castro
Luanda