- Não sou!
- És, és!
Não adianta. Pronto, sou um pasthune!
No Afeganistão,
no aeroporto de Kabul acharam que eu era afegão e falaram comigo em dari; depois, já na cidade, começaram a falar comigo em turco; agora, é um líder tribal de Kandahar que está convencido que sou da etnia dele e quer falar em pasthune.
Mas não é só aqui. No Iraque dizem que sou iraquiano ou libanês; que nada me pareço com os europeus, o que é bom. Assim, passo despercebido até o momento que mostro a câmara e o microfone. Também na Jordânia e no Kuwait passo por um local. Corre-me sangue árabe nas veias, muito provavelmente.
Durante toda a conversa com os americanos, no deserto do sul do Afeganistão, o líder pasthune não tirou os olhos de nós. Percebeu que não éramos soldados e muito menos americanos. No final da reunião, o afegão fez questão de saber de onde somos. “Ah, Por-tu-cale!”, soletra com um sorriso nos lábios.
Cumprimento-o com as duas mãos e de seguida bato com a direita no peito. É um sinal de respeito. Pergunto ao tradutor se acredita que este líder pasthune não ajuda os talibãns:
- Claro que ajuda. Ele e os outros.
- Como sabes?
- Ainda há dois dias atacaram os polícias militares afegãos.
- Mas isso não prova nada.
- Prova! Os tiros vieram da aldeia dele.
Comprovo isso nos dias seguintes. Por aqui são todos pasthunes e, como tal, fortes apoiantes da causa Talibã.
Luís Castro