o Bassim já vendeu o que lhe restava em Bagdade… a mobília.
Amanhã deverá conseguir os vistos para os filhos e abandonará definitivamente o Iraque dentro de dois ou três dias.
Depois de uma ida rápida à Síria, o nosso amigo regressou a Bagdade para fazer as malas e levar a família para Damasco.
Esta manhã disse-me que a prioridade é encontrar uma casa que possa pagar e que depois irá tratar da papelada com o escritório do ACNUR na capital síria.
Pedi-lhe que me envie todo o processo logo que esteja concluído.
Luís Castro
Aproveito para responder também aos vossos comentários do último post.
confesso que quase esgotei as possibilidades de ajudar o Bassim.
Há dez meses fiz chegar às mãos de António Guterres uma carta do nosso amigo iraquiano. Foi-lhe entregue em mãos, dizendo que a mensagem ia da minha parte. O Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR, em português; UNHCR, em inglês) respondeu a esse amigo que transportou a carta com um “Vou ver!”. Esperei que algo acontecesse, mas nada.
Não adianta enviar cartas, sms ou emails. Seria necessário encontrar alguém que tivesse um canal para o interior do ACNUR. Em muitos casos, os poderes intermédios conseguem “mexer” mais do que os do topo. É isso que procuramos – eu e o Bassim.
O caso do Bassim não é apenas o de um sunita perseguido pelos xiitas.
É também o de um jornalista que tem de fugir do seu próprio país para não ser morto.
Obrigado a todos!
Luís Castro
Bassim Schuaip
Irmão Castro,
decidi refazer a minha vida fora do Iraque. Quero esquecer tudo sobre este país. A situação tornou-se extremamente perigosa para mim. Há poucos dias recebi um alerta de um amigo que também é próximo da milícia xiita, dizendo que o meu nome está numa lista de pessoas a assassinar – o meu e o de outros antigos agentes de segurança. A verdade é que vários foram mortos nas últimas semanas. Estou desesperado e preciso da tua ajuda.
Quando leres esta mensagem eu já estarei a caminho da Síria. Vou tentar junto do ACNUR o estatuto de refugiado, mas não será fácil, de resto, como sabes, já o tentei e não consegui. A alguns estão a dar arroz, óleo e algum dinheiro… espero ser um deles. O UNHCR na Síria já tem o meu ficheiro.
Castro, não posso voltar ao Iraque.
A minha vida depende de ti.
Não tenho mais ninguém.
Do teu irmão,
Bassim Schauip
مرسلة بواسطة bassimفي
Não traduzi tudo.
Há pormenores do que lhe está a acontecer que só poderei contar mais tarde.
No próximo post irei revelar o que já tentei… e não consegui.
Para saber mais sobre o Bassim:
http://cheiroapolvora.blogs.sapo.pt/tag/bassim+est%C3%A1+assustado
http://cheiroapolvora.blogs.sapo.pt/tag/post+do+bassim
http://cheiroapolvora.blogs.sapo.pt/tag/resposta+do+bassim
http://cheiroapolvora.blogs.sapo.pt/tag/bassim+pede+ajuda
http://cheiroapolvora.blogs.sapo.pt/tag/bassim+aceitou+o+desafio
http://cheiroapolvora.blogs.sapo.pt/tag/bassim+pede+tempo
http://cheiroapolvora.blogs.sapo.pt/tag/%C3%A0+espera+de+um+milagre
http://cheiroapolvora.blogs.sapo.pt/tag/mensagem+de+bagdade
Luís Castro
Irmão Castro,
Li a história trágica do teu amigo McMillan e a mensagem da mulher, Elizabeth.
McMillan chegou ao Iraque com um sonho e para cumprir o seu dever. Os que o mataram também estão convencidos de que cumprem o seu dever: defender o país.
Infelizmente o Iraque está repleto de tragédias.
Há três semanas, tropas americanas mataram um iraquiano à porta de sua casa e à frente da mulher e dos seus três filhos com dois, quatro e seis anos de idade. Tudo porque cometeu o “crime” de subir ao telhado para arranjar o ar condicionado que avariara. Os americanos pensaram que estava emboscado para os atacar e abateram-no a tiro. Morreu sem saber a razão. Foi a apenas cem metros da minha casa.
Lamento profundamente todas as mortes no meu país, sejam iraquianos ou americanos. Todos têm famílias e, no caso dos soldados dos EUA, há mães, mulheres e filhos à espera que eles voltem vivos.
Por favor, envia as minhas condolências à mulher do McMillan e diz-lhe que estou triste por ela e pelo fim trágico dos sonhos de ambos. Rezo todos os dias para que o mundo seja muito melhor do que isto.
Como sabes, Castro, quase todos os iraquianos têm armas em suas casas para se defenderem a eles próprios e às suas famílias. Eu não tenho! És testemunha de que há cinco anos jurei nunca mais tocar em armas.
A resistência pede-nos que odiemos os americanos, mas eu não consigo odiar ninguém. Sei que também eu um dia serei morto por milícias, por terroristas ou por engano pelos soldados americanos. Mesmo assim, serei capaz de lhes perdoar.
مرسلة بواسطة bassimفي
Bagdade, 5 de Agosto 2008
**** Para quem tem curiosidade em saber quem é o Bassim, basta ir à categoria "amigo
iraquiano", do lado direito no blogue.
**** Mais logo darei resposta a todos os comentários aqui deixados desde ontem.
Obrigado.
Luís Castro
Caro irmão Castro,
a situação começou novamente a complicar-se em Bagdad.
Há mais violência e as acções da resistência e dos terroristas têm aumentado nos últimos dias. As milícias xiitas estão assassinar funcionários do antigo regime e exemplo disso são os sete oficiais do exército mortos ma semana passada, aqui na capital.
As pessoas estão a sofrer em Bagdad também por causa do calor. Continua a faltar electricidade, pois houve um atentado na refinaria de Daura, e não há sequer combustíveis.
A vida ficou como um inferno em Bagdad por estes dias. Continuamos à espera de um milagre. Até o ar está irrespirável, pela muita poeira que anda no ar e que vem do deserto.
Quero dizer olá a todas as pessoas que perguntam por mim e pedir-lhes para que continuem a rezar por mim e pelos meus filhos.
Quero mandar beijinhos para a tua família (esposa, Pedro e Inês) e para todas as pessoas que venham ao teu blogue.
Vou enviar-te uma longa mensagem sobre o meu caso nos próximos dias para dares ao "teu amigo" de quem me tens falado.
Bassim Schuaip
مرسلة بواسطة bassimفي
Bagdad,
3/07/08
*mail recebido ontem
.
Dear brother Castro,
I thank you very much for trying to help me and my family, I am watching your blog and read all what the people are saying about me and howmuch they are trying to help me... that is all made by your big help, I cannot find enough words to thank you.
About me, I have agood expeiance in security job, and also I can teach physics. I finished the college of scince. And for my wife she can teach trade and commerce because she passed the college of trad.
(...)
I tryed to get the refugee status from Syria but I couldnot because in Syria, all the staff ofthe UN there are syrians and it depend on them to tell your story.
I heard from many Iraqis there that you have to pay them well if you wanna get the refugee status, and as you know, there are more than tow millions iraqis there. So the chance was very week.
Few days ago a profssor killed with his son in my street about 500 meters from me by the terrorists, the thinks that the shiite militias are responseble for that. The man was the daputy of the chief of Nahrin Univercity in Baghdad. He was a scintist in computers and he was a sunni man.
Please say hello to all people in your blog and to your family,
I will wait for your answer.
Amigos,
foram muitos os comentários ao último post.
É fantástico saber o movimento que se gerou à volta do meu e vosso amigo iraquiano.
Sem desprimor para com as restantes, aproveitei a ideia de se gravar um vídeo com o pedido do Bassim e colocá-lo no “YouTube”.
Assim, liguei para Bagdade e lancei-lhe o desafio. Aceitou de imediato e ficou de me fazer chegar esse apelo para o meu mail.
Mais: pedi-lhe outras informações para partilhar com todos vós:
1 - A razão pela qual lhe foi negado o anterior pedido para a obtenção do tão
desejado “estatuto de refugiado”.
2 – Se gostaria de tentar os países do Norte da Europa onde tem família.
(Suécia e Holanda).
Disse-me que seria o ideal, até porque esses familiares já lá estão há bastante
tempo, conseguiram bons empregos e vivem razoavelmente bem.
3 – Áreas onde poderá tentar emprego e quais as habilitações que possui.
O que falta saber, o Bassim ficou de me enviar também por mail.
Outros caminhos estão a ser seguidos por alguns de vós, tal como a mensagem enviada ao padre Vítor Melícias.
Levem este apelo do nosso amigo para os vossos blogues e espalhem-no pelos vossos contactos. A Internet multiplicará os nossos esforços.
Mais uma vez, em nome do Bassim, muito obrigado a todos!
Luís Castro
.
Olá, irmão Castro.
Como sabes, as coisas mais importantes no Iraque são a segurança e a electricidade. As temperaturas já são superiores a 40 graus e temos que ficar doze horas por dia sem água fresca por não ter electricidade. Para além de tudo isto, não podemos sair de casa depois das sete ou oito da noite.
A minha “nova” casa é muito próxima da rua principal, pelo que se torna ainda mais perigoso. Na semana passada, fizeram rebentar uma carga explosiva a apenas vinte metros da minha porta. A resistência visou uma patrulha do exército iraquiano, matando dois dos oficiais que iam a passar.
Sabes,
gostaria de contar ao mundo o crime da Administração Bush. O Presidente americano disse que antes de 2003 o Iraque era muito perigoso. Vivíamos em Paz, mas diziam que Saddam tinha armas de destruição maciça. Como depois não encontraram as tais armas, então acusaram Saddam de ser um ditador, justificando assim a invasão e o derrube do regime.
Bush, Pentágono e CIA cometeram erros, é verdade, mas agora, quem paga por eles?
Destruíram o Iraque e já não o conseguem reconstruir. Um milhão de mortos em cinco anos! Quem será responsabilizado por estes crimes? Eu sei a resposta: ninguém! Esse milhão não é importante para os americanos. E não falta quem esteja ansioso por destruir o que resta do meu país.
Muitos dos líderes árabes do terceiro mundo são ditadores. Imagina que os americanos os depunham a todos… teriam que destruir meio mundo!
A verdade não pode ser escondida: os americanos “cavaram” um grande crime no Iraque e agora não o conseguem tapar.
Querido Castro,
estou destroçado!
Sinto-me muito triste e desgostoso com o que vejo acontecer ao meu povo.
Sou Sunita, mas todos os iraquianos são meus irmãos.
Não posso tolerar o que está a acontecer no meu país.
Estou farto de fugir.
Envia um grande abraço a todos os teus amigos do blogue, em especial aos que têm partilhado a minha dor. E se alguém tiver forma de me ajudar a sair do Iraque e a arranjar um país onde os meus filhos possam crescer em paz, por favor não se esqueçam de mim.
Preciso de todas as ajudas possíveis!!!
Bassim Schuaip
مرسلة بواسطة bassimفي
Querido irmão Castro,
Agradece muito a todos as pessoas que se têm preocupado comigo e com a minha família.
Estou muito confuso. Não foi fácil mudar de casa em Bagdade e estou a tentar dar à minha família o conforto possível, como electricidade, por exemplo. A minha filha está a estudar para os exames. Quero minimizar-lhes o sofrimento.
Tenho meditado muito sobre o que fazer. Talvez arrisque sair novamente do Iraque e volte a tentar obter o estatuto de refugiado, mas, por agora, é melhor deixar que as crianças acabem o ano escolar. Sinto que estou a envelhecer rapidamente neste Iraque. Acredito em Deus e tenho a certeza de que Ele me irá indicar o caminho a seguir.
Li os comentários que os portugueses deixaram no teu blogue. São como que irmãos na Humanidade. É bom sentir que não estou sozinho e que há quem se preocupe comigo.
Agradeço-te, Castro, por tornares público o meu caso.
Dá um abraço a todos, por favor.
Voltarei a dar notícias logo que acabe de acomodar a minha família.
Bassim Shuaip