Como sempre acontece, todos ganharam.
Sócrates venceu as eleições;
Ferreira Leite teve uns pozinhos mais do que Santana Lopes;
Portas conseguiu o melhor resultado dos últimos 26 anos para o PP;
Jerónimo aumentou 30 mil votantes;
Louça arrecadou mais 200 mil simpatizantes para o Bloco.
Na verdade, o único que pode cantar vitória é Paulo Portas.
Apontado nas sondagens como o quarto ou quinto partido na tendência dos votos, o CDS-PP ultrapassou o BE e é agora a ser a terceira maior força partidária.
O Bloco, apesar de duplicar os assentos parlamentares, o certo é que chegou a ter 16% nas sondagens e não ultrapassou os dois dígitos. Dos 30 deputados que chegaram a projectar como possíveis de alcançar, ficaram-se pelos 16. O BE prometeu mais do que conseguiu.
O PSD ficou abaixo dos 30%, teve poucas décimas mais do que conseguira com Santana Lopes, não derrotou o PS e registou o 4º pior resultado desde 1976. Perdeu uma oportunidade histórica. Teve todas as condições para o conseguir.
A CDU é a última força política. Muito pouco para uma coligação e para um líder que é considerado por muitos como o mais coerente de todos.
O PS perdeu a maioria.
Venceu, é verdade, mas viu fugir mais de meio milhão de votantes.
Sócrates diz que conseguiu uma “vitória extraordinária”. Não diria tanto, mas esta vitória é quase só dele. Merece continuar a governar,só que os portugueses não lhe quiseram dar a maioria.
Ferreira Leite esforçou-se, mas os sociais democratas disseram-lhe que é altura de renovar o partido. Este PSD precisa de se reencontrar com o seu eleitorado.
Louçã terá de se definir: o Bloco é um partido de protesto ou com aspirações a ser poder?
Jerónimo terá de procurar eleitorado. A Democracia e os trabalhadores precisam do PCP.
Portas será – muito provavelmente – a principal muleta do PS para acordos pontuais e já lembrou os socialistas que terão de negociar.
Mais uma vez – o que já vem sendo hábito –, acompanhei a noite eleitoral fora da RTP. Entre os muitos telefonemas e as emissões das televisões, ouvi de um amigo a frase da noite:
“Estas eleições não resolveram nada e complicaram tudo”.
Concordam?
Luís Castro
*** Vejam o primeiro voto de um pinguim e ajudem-no em:
http://www.rumoantarctica.com/
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O “Cheiroapólvora” leva vinte e seis dias de existência e quase trinta mil entradas. Foi o blogue mais procurado logo no primeiro dia, o mesmo acontecendo na maioria dos restantes em que permaneci no Iraque. Chegou a ter mais de duas mil visitas. Nunca imaginei que tal acontecesse.
Tentei corresponder ao vosso crescente interesse. Fiz reportagens por vós sugeridas e direccionei parte das minhas intervenções em directo de Bagdade para as dúvidas que sentia existirem através das mensagens que me iam deixando; pude interagir convosco, dando um pouco mais do que os dois ou três minutos que as reportagens me permitiam; respondi a todos os comentários onde expressei quase sempre frustração e revolta, mas também esperança; percebi o que vos ia na alma e de que forma o meu discurso estava ou não a ser compreendido; publiquei imagens que guardei na retina e nas lentes das câmaras de filmar e fotográfica.
Esta experiência foi muito importante para mim, uma vez que nós, jornalistas de televisão, estamos habituados a falar e não a ouvir. Eu escutei-vos. Já sabia que existia um mundo para além do nosso - aquele para quem nós trabalhamos - ávido de informação, mas nunca pensei estabelecer convosco uma ligação tão forte. E agora, o que fazer com este blogue?
Tenho ideias: posso verter aqui o que foram as minhas experiências nas dezassete guerras por onde andei e sobre a tragédia de Vargas, na Venezuela; posso levá-lo para assuntos actuais relacionados com a temática; posso abrir espaço de debate para assuntos quentes dos nossos dias, sejam as guerras de lá ou as guerras de cá; posso até optar por uma mistura de tudo isto. As expectativas estão muito altas e temo não conseguir corresponder ao que esperam de mim. Preciso que me ajudem a encontrar o caminho, até porque este blogue já não me pertence. É de todos vós.
Muito obrigado a todos. Vocês são o melhor dos públicos!
Luís Castro
Repórter de Guerra e Coordenador do Telejornal da RTP