Valeu a pena?
Muitas das questões mantêm-se em aberto.
Deixo-vos um documentário que fiz e alguns dos textos que escrevi há um ano, em mais uma ida ao Iraque.
http://cheiroapolvora.blogs.sapo.pt/tag/guerra+sem+fim
http://cheiroapolvora.blogs.sapo.pt/tag/regresso+ao+iraque
http://cheiroapolvora.blogs.sapo.pt/tag/na+linha+da+frente
http://cheiroapolvora.blogs.sapo.pt/tag/go%21go%21go%21
http://cheiroapolvora.blogs.sapo.pt/tag/vai+passar+na+cnn%3F
http://cheiroapolvora.blogs.sapo.pt/tag/americanos+surpreendem-me
http://cheiroapolvora.blogs.sapo.pt/tag/mensagens+dos+rangers
http://cheiroapolvora.blogs.sapo.pt/tag/mcmillan+morreu
http://cheiroapolvora.blogs.sapo.pt/tag/como+evitar+disparates+no+iraque
http://cheiroapolvora.blogs.sapo.pt/tag/fim+de+semana+em+bagdade
Ver mais em:
http://cheiroapolvora.blogs.sapo.pt/tag/rep%C3%B3rter+de+guerra+-+iraque
http://cheiroapolvora.blogs.sapo.pt/tag/iraque+2008
http://cheiroapolvora.blogs.sapo.pt/2008/03/
http://cheiroapolvora.blogs.sapo.pt/tag/massacre+em+al-saydia
Luís Castro
Foi tirada no dia em que partiu para o Iraque.
“A última coisa que o McMillam disse ao telefone foi que me amava. Nunca o vou esquecer!” Elizabeth falou com o marido pouco antes dele morrer.
Naquele dia, seguia numa coluna militar quando o striker em que se deslocava foi atingido por uma explosão em Samarra, a Norte de Bagdade.
McMillan não resistiu aos ferimentos e morreu no dia em que fazia dezoito meses de casado.
Luís Castro
Ontem chorei. Muito! E como há muito não chorava.
A meio da tarde recebi uma notícia que não esperava: o McMillan tinha morrido numa explosão no Iraque.
Tentei esconder da redacção as lágrimas que me caíam no teclado do computador. Não consegui. Fazer a régie durante o Telejornal tornou-se doloroso. Mais ainda quando os muitos monitores que estavam à minha frente multiplicaram as imagens dos últimos atentados no Iraque.
Para quem não sabe, o McMillan é um amigo que guardarei para sempre. Juntos passámos muitos e intensos momentos durante a batalha por Sadr City, em Março, nos arredores de Bagdade. Este ranger americano era um jovem de vinte e dois anos que foi ao Iraque poupar o dinheiro suficiente para pagar o curso da mulher que deixara na América. Também ele tinha um sonho…
Hi Castro,
This is McMillan's wife. Unfortunately, I have very very sad news. My husband, Bill McMillan was killed in action on July 8 ,2008 from injuries sustained when his stryker struck an improvised explosive device (IED). My husband spoke very fondly of you and enjoyed spending time with you. I am sorry to tell you such sad news. I hope you reply back, I would love to hear about your time with my beloved husband.
Sincerely,
Elizabeth McMillan
http://www.defenselink.mil/releases/release.aspx?releaseid=12053
http://www.25idl.army.mil/Deployment/Remembering/Remembering.htm
http://www.diversityinbusiness.com/Military/Casualties/ix_Mil_Cas.htm
Transcrevo duas passagens que escrevi sobre ele.
Entramos num dos strikers e McMillan, o socorrista, pergunta-nos de imediato: “Se entrarmos em combate, vocês vão lá para fora ou preferem ficar cá dentro?” Respondo-lhe que iremos para onde eles forem; que estamos ali para filmar tudo o que acontecer. Ele sorri e volta a perguntar: “E se ficarem feridos posso dar-vos morfina, ou são alérgicos?” Vejo que estão preparados para tudo.
(...)
Nesta última ida ao Iraque juntei mais uns quantos amigos: Morris, Aldrige, Finnigan e Kolzoi e McMillan. Alguns são ainda muito novos. No fundo não deixam de ser jovens a tentar sobreviver num mundo que lhes é estranho. McMillan, de vinte e dois anos, confidenciou-me no meio de Sadr City que foi ao Iraque ganhar dinheiro para pagar os estudos da mulher e para também ele poder acabar o curso de medicina quando voltar ao Arkansas. Ele e os outros não querem saber de política, apenas que lhes confiaram uma missão e que a querem levar até ao fim. O paramédico, após sentir alguns projécteis passarem-lhe por cima da cabeça, desabafa: “Ainda faltam onze meses, mas quando isto acabar terei poupado trinta e cinco mil dólares.” McMillan ganha mais cinco mil dólares (4 mil euros por mês) por ter vindo para o Iraque. Se não fosse casado receberia pouco mais de metade. Pensei que ganhassem mais.
Para quem quiser saber mais sobre o McMillan e sobre o que passámos juntos, podem ir aos links:
http://cheiroapolvora.blogs.sapo.pt/5079.html?thread=133591
http://cheiroapolvora.blogs.sapo.pt/5157.html
http://cheiroapolvora.blogs.sapo.pt/5402.html?thread=155674
http://cheiroapolvora.blogs.sapo.pt/5829.html?thread=170949
http://cheiroapolvora.blogs.sapo.pt/6235.html
http://cheiroapolvora.blogs.sapo.pt/7670.html
Luís Castro
Repórter da CBS critica cobertura jornalística da guerra no Iraque
Fonte: Público
A correspondente da CBS Lara Logan, uma repórter de 36 anos de idade que trabalha em cenários de guerra há sete anos, afirmou em directo no programa «Daily Show» que se tivesse de ver as notícias sobre o Iraque que são publicadas nos Estados Unidos «daria um tiro na cabeça». As reportagens de Lara Logan chegaram a motivar a censura pública de George W. Bush e do seu vice-presidente, Dick Cheney, mas também lhe valeram um Emmy no ano passado.
http://www.publico.clix.pt/videos/?v=20080620162148&z=1
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http://www.youtube.com/v/JYfgPbMM85w&hl=en"></param><param
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http://www.youtube.com/v/znsaGGmZDj0&hl=en"></param><param
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Meus amigos,
o artigo é de opinião e foi escrito pelo jornalista Leonídio Paulo Ferreira, tendo sido publicado no jornal Diário de Notícias há poucos dias. Porque o acho delicioso e porque o jornalismo também é um exercício de memória, vou transcrevê-lo para o “cheiroapolvora”.
* O Bassim ainda não mandou o mail, pelo que não sei muitos mais detalhes sobre o atentado que aconteceu a apenas vinte metros da sua nova casa, nos arredores de Bagdade. Apenas me disse que foi contra uma patrulha do exército iraquiano e que terão morrido alguns soldados.
Luís Castro
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O título é Guia para as forças americanas em serviço no Iraque - 1943. E este livrinho em inglês, de capa dura cor de areia, tem sido um sucesso de vendas dos dois lados do Atlântico.
"- Vais entrar no Iraque e és tanto um soldado como um indivíduo, porque no nosso lado um homem pode ser um soldado e um indivíduo. É essa a nossa força se formos espertos o suficiente para usá-la. Pode ser a nossa fraqueza se não o formos."
"- O sucesso ou fracasso americano no Iraque pode depender de como os iraquianos (é assim que o povo é chamado) gostem ou não dos soldados americanos. Pode não ser assim tão simples. Mas, reforce-se, pode ser."
"- O homem alto com as vestes flutuantes que irás ver em breve, com patilhas e cabelo comprido, é um combatente de primeira categoria, altamente treinado na guerra de guerrilha. Poucos combatentes em outros países, na realidade, podem excedê-lo nesse tipo de situação. Se for teu amigo, pode ser um fiel e valioso aliado. Se acontecer ser teu inimigo, tem cuidado! Lembras-te do Lawrence da Arábia? Bem, foi com homens como estes que ele fez história na Primeira Guerra Mundial."
"-Não vais para o Iraque para mudar os iraquianos. Exactamente o oposto. Estamos a combater esta guerra para preservar o princípio 'vive e deixa viver'. Talvez soe a meras palavras quando estás
"- É uma boa ideia em qualquer país estrangeiro evitar discussões políticas ou religiosas. Isso é ainda mais verdade no Iraque do que na maioria dos outros países, porque acontece que os próprios muçulmanos estão divididos em duas facções, um pouco como a nossa divisão entre católicos e protestantes - assim não apostes os teus dois tostões quando os iraquianos discutem sobre religião. Existem também diferenças políticas no Iraque que surpreenderam diplomatas e estadistas. Não irás ganhar nada se te imiscuíres nelas."
O alerta surgiu este fim-de-semana: “um grupo da Al-Qaeda entrou na capital iraquiana para cometer ataques suicidas”, dizia em comunicado o exército americano. Na verdade, eu já o sabia desde o dia em que comecei a acompanhar os rangers
Em cinco anos explodiram cerca de cinco mil e quinhentos carros-bomba no Iraque, na grande maioria
O impacto faz abanar as janelas do nosso hotel.
- Esta foi perto! – diz o Bruno.
Vamos à janela do quarto e vemos uma nuvem de fumo a menos de cem metros. Abandonamos a peça que estávamos a montar e corremos para a rua. Alguma coisa explodiu num dos acessos ao hotel. Um dos seguranças agarra num pedaço de chapa retorcida, mas deixa-o cair de imediato. Está muito quente. Chegam carros dos bombeiros, ambulâncias e polícias. Começamos a filmar, mas somos rapidamente afastados. Dizem que pode haver um segundo carro bomba. É um comportamento habitual entre os terroristas: colocam um carro que explode, logo depois aproximam-se polícias e populares para socorrer os feridos e é então que fazem detonar os explosivos da segunda viatura. Compreendo a preocupação deles, só que as imagens não podem ficar para mais tarde. Temos que captar o que está acontecer. Furamos o cordão e aproximo-me do oficial que parece estar a comandar as operações. Mais uma vez a pergunta:
- De onde são?
- Somos de Portugal?
- Ah, Portugal! – virando-se para os subordinados, diz-lhes: Portugal fica depois da Espanha e junto a Marrocos. Portugal é um país muçulmano. Podem filmar!
Não desfaço o engano e começamos os dois a filmar, eu e o Bruno, agora junto ao carro que ficou completamente desfeito. Teria entre cento e cinquenta a duzentos quilogramas de explosivos e foram accionados por um dispositivo de controlo remoto. Houve quem tivesse visto o terrorista a carregar no botão de um pequeno aparelho que tirou do bolso e a entrar numa de duas viaturas que o esperavam. Da forma como o carro estava estacionado e o momento em que a bomba foi detonada, mais não pretendia do que atingir quem passava. Apenas civis. Morreram duas pessoas e várias ficaram feridas. Nós fomos poupados porque havia um pequeno edifício que nos protegeu da onda de choque e dos estilhaços.
O Bassim prometeu-me que irá responder aos vossos comentários.
Espero pela chegada para publicar.
Obrigado a todos.
Luís castro
Foram muitas as sugestões. Muitas e variadas. Mas numa coisa convergiram: não querem que feche o blogue. Pois bem, assim será.
Li todos os comentários, digeri as vossas opiniões e tirei conclusões. Na verdade, vocês deram-me ainda mais responsabilidade. Não imaginava que este espaço já fizesse parte dos vossos hábitos diários. A média de entradas e as dezenas de comentários por cada post indiciavam grande interesse, mas que o “cheiroapolvora” tivesse entrado nas vossas vidas desta forma, isso não esperava.
Alguns comentários quase me fizeram chorar, outros levaram-me a reflectir sobre o papel dos jornalistas na sociedade e no mundo. Pediram-me que continue a escrever como Luís Castro e não apenas como jornalista; que explique os bastidores da Televisão e do Telejornal; que conte experiências de guerras passadas; que aborde e abra a discussão sobre temas actuais, até porque o cheiro a pólvora também anda por cá. Julgo que é isso que vou fazer: um pouco de tudo.
Assim, perante o que vocês escreveram, não tenho alternativa. E ainda bem!
Obrigado a todos.
Luís Castro
* O Bassim e a família tiveram que fugir de casa.
* Os americanos com quem estive em missão voltaram a entrar em combate.
Serão temas do próximo post.
Beijos e abraços
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O “Cheiroapólvora” leva vinte e seis dias de existência e quase trinta mil entradas. Foi o blogue mais procurado logo no primeiro dia, o mesmo acontecendo na maioria dos restantes em que permaneci no Iraque. Chegou a ter mais de duas mil visitas. Nunca imaginei que tal acontecesse.
Tentei corresponder ao vosso crescente interesse. Fiz reportagens por vós sugeridas e direccionei parte das minhas intervenções em directo de Bagdade para as dúvidas que sentia existirem através das mensagens que me iam deixando; pude interagir convosco, dando um pouco mais do que os dois ou três minutos que as reportagens me permitiam; respondi a todos os comentários onde expressei quase sempre frustração e revolta, mas também esperança; percebi o que vos ia na alma e de que forma o meu discurso estava ou não a ser compreendido; publiquei imagens que guardei na retina e nas lentes das câmaras de filmar e fotográfica.
Esta experiência foi muito importante para mim, uma vez que nós, jornalistas de televisão, estamos habituados a falar e não a ouvir. Eu escutei-vos. Já sabia que existia um mundo para além do nosso - aquele para quem nós trabalhamos - ávido de informação, mas nunca pensei estabelecer convosco uma ligação tão forte. E agora, o que fazer com este blogue?
Tenho ideias: posso verter aqui o que foram as minhas experiências nas dezassete guerras por onde andei e sobre a tragédia de Vargas, na Venezuela; posso levá-lo para assuntos actuais relacionados com a temática; posso abrir espaço de debate para assuntos quentes dos nossos dias, sejam as guerras de lá ou as guerras de cá; posso até optar por uma mistura de tudo isto. As expectativas estão muito altas e temo não conseguir corresponder ao que esperam de mim. Preciso que me ajudem a encontrar o caminho, até porque este blogue já não me pertence. É de todos vós.
Muito obrigado a todos. Vocês são o melhor dos públicos!
Luís Castro
Repórter de Guerra e Coordenador do Telejornal da RTP