O general Loureiro dos Santos lançou "A Guerra no meio de Nós" e nenhum jornalista lá foi, muito menos as Televisões.
Cheguei a casa e fui ver os Telejornais: todos atiraram a notícia do atentado do ISIS na Indonésia, o maior país muçulmano do mundo, para o final.
Se nas redações não entendem a importância do que se passa para lá da nossa rua, dificilmente poderiam medir a importância do que esta tarde aconteceu na FNAC do Chiado.
O coronel Lemos Pires, um dos melhores oficiais que servem no Exército, apresentou o livro do general Loureiro dos Santos e chamou-lhe "um dos Senadores de Portugal".
O também filho do último governador de Timor Leste, relembrou o que ambos há muito partilhamos:
"Os mais novos precisam de referências e de quem lhes dê memória e contexto".
Os jornalistas não quiseram saber.
Luís Castro
Sabemos que há duas Justiças: a dos Tribunais, lenta,
e a da Opinião Pública, rápida, em que os jornalistas são juizes e carrascos.
Mais uma lição a tirar por uma classe que continua a não refletir e prefere não discutir a necessidade de uma "Ordem dos Jornalistas".
Em 2009 escrevi sobre o "Não nos metam na Ordem"!
http://cheiroapolvora.blogs.sapo.pt/105552.html
"Esta decisão prova que a Justiça se faz nos Tribunais e não na comunicação social. Todos os que apostaram – e foram muitos – no populismo mediático e no julgamento em praça pública perderam. Venceu a prova produzida em Audiência de Julgamento, a Lei e o Direito e a convicção de que o julgamento se não faria nos Media mas sim no Tribunal", afirmou João Rendeiro em comunicado.
http://expresso.sapo.pt/economia/2015-06-05-BPP.-E-todos-o-tribunal-absolveu
Luís Castro
Alguém tem andado muito distraído !!!
Pergunto eu:
1 - Só repararam agora, depois de 7 anos de muitas asneiras?
2 - Mas alguém quer saber das asneiras que fez?
3 - Será que vamos aprender com os erros que cometemos?
Para todas há uma resposta comum:
CLARO QUE NÃO !!!
Luís Castro
Artigo do Daniel Oliveira, no "Expresso".
«Silvio Berlusconi explicou a quem o queria ouvir os segredos da sua popularidade entre as mulheres. Entre gracejos sobre o seu desempenho sexual e a sua fortuna, deixou claro que não era gay. Disse outras coisas, mas foi por isto que a comunicação social portuguesa puxou. A França está agitada por causa de uma biografia de Carla Bruni, a primeira dama sensação da Europa. Diz que ela é fria e pouco interessada pelas suas obras de caridade.
(…)
Bem vistas as coisas, o Mundo não mudou assim tanto.
(…)
O que mudou é a absoluta irrelevância da política. Poucos querem saber o que pensam e andam a fazer estes dois líderes, por sinal os mais perigosos da Europa, no seu desbragado populismo. A maioria dos cidadãos abomina a política e os políticos mas entusiasma-se com os seus segredos de alcova e os seus pecados privados. Vibra ou indigna-se com a sua boçalidade ou as suas hipócritas encenações.
Mesmo a popularidade de Obama, que varreu o Mundo há dois anos, deveu-se mais à sua simpatia e oratória, à sua raça e à sua juventude, do que ao corte político e ideológico que, apesar de tudo, a sua eleição significaria.
(…)
O espectáculo da futilidade. A comunicação social, que deveria ser o palco do confronto político, transformou-se no palco da banalidade.
Berlusconi vive disto. Não é só um excelente actor. Realiza e distribui, através de um quase monopólio dos canais de televisão, o filme em que ele é sempre personagem principal. Sem o mesmo poder, Sarkozy também se move bem no "showbiz" da política pimba. E, enquanto os cidadãos se distraem com as suas vidas, os seus escândalos, os seus divórcios, os seus casamentos, eles expulsam imigrantes, perseguem minorias e alimentam o ambiente de intolerância que a crise económica propicia.
(…)
Julgávamos que com uma comunicação social livre teríamos os cidadãos mais informados e conscientes que a história da democracia alguma vez conhecera. Pode alguém confirmar esta ingénua esperança? A verdade é que milhões de cidadãos com um telecomando na mão não fazem uma democracia. Fazem uma mediocracia. Não é a mesma coisa. Arrisco-me a dizer que são coisas opostas. »
Artigo que escrevi para a TV Guia:
O "efeito Gupta"
O correspondente médico da CNN trata a cabeça de uma bebé com 15 dias;
o médico jornalista da ABC faz um parto prematuro;
a enviada médica da CBS ajuda no socorro a uma menina com braço amputado;
a repórter cirurgiã da NBC coloca talas em osso partidos.
Os mais famosos correspondentes televisivos americanos do momento não foram só contar a história do sismo no Haiti. Eles estão a participar activamente e de forma incomum nas histórias, prestando ajuda médica com as câmaras a filmar.
Defendo o jornalista quando ele faz parte da história. Ele não é a história, mas o fio condutor da “sua” história. O repórter no terreno não tem uma visão completa sobre o acontecimento, ele sabe e reporta apenas o que está no seu campo de acção, procurando a melhor forma de contar a história. E será também pelas suas histórias que esse momento ficará gravado na História.
No Haiti fez-se História também para o jornalismo. Todos quiseram ir atrás da CNN e do seu correspondente médico, o neurocirurgião Sanjay Gupta, no que em jornalismo se chama “pack journalism”. Ficou provado o que há muito venho dizendo: um médico pode ser jornalista, mas um jornalista não pode ser médico.
O papel duplo do “jornalista” - repórter e médico -, permitindo-lhe por a “mão na massa”, produziu um estilo dramático de jornalismo participativo. E é aqui que facilmente se passa do sublime ao ridículo. Não me parece que tenha acontecido, mas apenas se abriu a porta deste novo género jornalístico.
Não sou dos que entendem que o jornalista não se deve envolver no acontecimento que relata – é impossível nos casos de grande carga emocional – no entanto, essas narrativas podem deturpar e tornar-se manipuladoras.
Temo, porém, que os médicos jornalistas – e não jornalistas médicos! – enviados pelas televisões americanas para o Haiti, dêem novas e perigosas ideias a alguns decisores editoriais para quem tudo vale em troca de mais audiências.
Luís Castro
Editor executivo de informação da RTP