Não, não sou.
Apenas alguém que ia a passar nesse momento e que mais não fez do que a sua obrigação: tentar salvar uma vida.
Heróis são os médicos, os bombeiros e os polícias. Esses sim.
Eles são os nossos “cuidadores”.
Quanto muito, um bom samaritano.
E aquilo que o director adjunto do jornal "24 Horas" diz:
“evitou que mais um homem se tornasse mais uma vítima das nossas estradas.”
No entanto, reconheço dois aspectos importantes:
1 – Ao contrário de todos os dias, na segunda fui trabalhar mais tarde.
Só por isso passei naquele local àquela hora.
2 – É preciso ter algum “sangue-frio” para enfrentar o momento.
É algo que ganhei pelas experiências a que tenho sido sujeito
De resto, nada que bombeiros, médicos e enfermeiros não vivam quase diariamente.
Ontem fui visitar o António ao S. José.
Só me reconheceu pela voz. Recorda-se de me ouvir falar, mas não guarda imagens do momento. Estava em estado de choque.
Foi operado e saiu dos cuidados intensivos. Não fala, mas há-de recuperar a voz. Reconstituíram as vias danificadas e nos próximos tempos o organismo terá de regenerar, só então lhe retiram o tubo. Ficará internado mais dez a quinze dias.
Durante os trinta minutos que estive com ele, o António fez um desenho dos cortes que tinha no pescoço. Arrepiou-se enquanto riscava no papel.
Felizmente não guardará a imagem de como estava quando cheguei ao pé dele.
Luís Castro